Rodoanel Mário Covas e Linha Amarela são exemplos do modelo de licitação Governos participam com desapropriação e financiamento da obra Por Carolina Marcondes e Leonardo Goy  SÃO PAULO/BRASÍLIA, 24 Mai (Reuters) - Com um modelo de concessões do setor rodoviário visto como maduro pelo mercado e por empresas do setor, governos devem passar a transferir para a iniciativa privada não apenas trechos já construídos e em operação, mas também projetos novos, os chamados "greenfield".  Apesar de um apetite maior da iniciativa privada por esse modelo, as estradas greenfield não são uma novidade no Brasil: o trecho leste do Rodoanel Mário Covas (Grupo Bertin), a pista sul da Rodovia dos Imigrantes (Ecorodovias <ECOR3.SA>), em São Paulo, e a Linha Amarela (Invepar) e a Transolímpica (Consórcio Rio Olímpico), no Rio de Janeiro, são exemplos de empreendimentos iniciados do zero.  Para empresas e especialistas do setor ouvidos pela Reuters, existe espaço e interesse das companhias do setor em atuar nesse modelo.  Nesse formato de licitação, os governos participam do processo por meio de desapropriações e pelo financiamento da construção, que por sua vez é de responsabilidade da concessionária -seja uma empresa ou um consórcio.  "A operação é interessante porque o governo passa ao vencedor (da licitação) a responsabilidade da construção. É melhor, mais prático e mais rápido", comentou o analista Leonardo Zanfelício, da Concórdia Corretora.  "É uma evolução no conceito", avalia o sócio e especialista na área de infraestrutura e financiamento de projetos da Machado Meyer Sandacz Opice Advogados, Lucas Sant′Anna. Para ele, as rodovias "greenfield" são "o próximo passo" para o setor.   Mesmo com 1,7 milhão de quilômetros de rodovias no Brasil, tanto pavimentadas quanto estradas de terra -segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), ainda há espaço para novos trechos.  O presidente da Associação Brasileira das Concessionárias de Rodovias (ABCR), Moacyr Duarte, lembra que é impossível viabilizar uma rodovia nova sem investimento público. "Mas há apetite no Brasil por esse tipo de obra", afirmou.  No caso da Transolímpica, por exemplo, o poder concedente fará uma contribuição de capital para a concessionária, que será responsável pela construção.   "A concessionária faz a gestão de todas as obras e depois faz as operações, manutenção, pelo período da concessão... Esse risco (de atraso) não existe, porque quem fará as obras serão empresas contratadas pela concessionária", disse o diretor financeiro e de Relações com Investidores da CCR <CCRO3.SA>, Arthur Piotto, em abril.   CCR, Invepar e Odebrecht Transport compõem o consórcio Rio Olímpico, que venceu a licitação do trecho de 13 quilômetros ligando a Avenida Brasil à Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.  O presidente da Concepa, Odenir Sanches, não vê pontos negativos em uma rodovia licitada desde antes de sua construção. A Concepa, controlada pela Triunfo Participações <TPIS3.SA>, é responsável pela BR-290, no Rio Grande do Sul.   "O poder público tem que investir em outras coisas, ele deve passar o que puder para a iniciativa privada", disse. "Independentemente se já é uma concessão existente ou se sai do zero, ela só se torna viável se tiver uma boa relação custo-benefício."  A grande diferença dessas concessões para as concessionárias é que, no caso de uma rodovia já existente, é mais fácil calcular a taxa de retorno e prever o tráfego.   "Qualquer modelo de concessão que se torne viável é bem-vindo. A concessão calcula valores de investimento, custeio, perspectiva de tráfego, a tarifa que se aplica e se ela é economicamente viável. Tendo todos esses elementos saberemos se é possível partir do zero ou não", completou.  Apesar do otimismo do setor e de iniciativas em âmbito estadual e municipal, o governo federal não tem, no momento, planos de criar novas rodovias "greenfield".      Segundo o Ministro dos Transportes, Paulo Sérgio Passos, as concessões nesse modelo "não estão na agenda" do governo. Entretanto, isso não é descartado para o futuro.   "Neste momento, não. O que não impede de, oportunamente, se avaliar a possibilidade de fazer isso", disse Passos à Reuters.        SEIS MIL QUILÔMETROS  Segundo o ministro dos Transportes, estão em análise cerca de seis mil quilômetros de rodovias que poderiam ser concedidas no "modelo clássico", ainda sem data para um eventual leilão.  Para os especialistas ouvidos pela Reuters, há espaço para as duas modalidades de leilões de concessão.  "Ainda existe potencial para concessões comuns, feitas para melhorar trechos já existentes. A malha rodoviária brasileira ainda é muito pequena", declarou Duarte, da ABCR.  Os dois próximos trechos de rodovias federais cujas concessões deverão ir à leilão são a BR-116, em novembro deste ano, e a BR-040, com licitação prevista para janeiro de 2013.    (Reuters 24.05.2012) (Notícia na Íntegra)