A crise financeira mundial já mexe com os orçamentos dos escritórios de advocacia brasileiros para o ano de 2009. As principais bancas do país prevêem um crescimento menor no ano que vem em comparação com o deste ano, rompendo o ciclo de taxas recordes que o setor de serviços jurídicos vive nos últimos anos. Embora a crise não tenha causado impacto na quantidade de trabalho nos escritórios até agora - ainda que tenha provocado mudanças qualitativas - e as metas previstas para este ano estejam sendo mantidas, o cenário para o ano que vem é incerto. 
 
"Se em 2009 for mantido o mesmo nível de faturamento que o esperado para este ano já será uma vitória", diz Rogério Lessa, sócio e diretor geral do escritório Demarest e Almeida Advogados. Por enquanto, ele afirma que o movimento no escritório ainda se mantém normal. "Não é um movimento excepcional como tínhamos no ano passado, em que os advogados trabalhavam intensamente nos fins de semana e de madrugada para dar conta do trabalho, mas ainda há muita demanda." Segundo ele, como o escritório não tinha uma ênfase maior em mercado de capitais e em IPOs (a sigla em inglês para ofertas iniciais de ações), não houve uma queda significativa no volume trabalho. A banca, diz Lessa, deve fechar o ano com uma taxa de crescimento no faturamento próxima à estimada no fim do ano passado - de 15%. Já para 2009, a preocupação é a de que a crise financeira passe a ser econômica. O CEO do escritório Veirano Advogados, Carlos Souto, afirma que a banca deve fechar 2008 com o mesmo ritmo de crescimento do ano passado - mas também faz parte do grupo que acredita que o sentimento de otimismo geral mudou. "Estamos mais cautelosos neste momento de incerteza", diz. 
 
A mesma projeção de resultados mais fracos em 2009 é feita pelos escritórios TozziniFreire e Pinheiro Neto. "Fomos até surpreendidos por termos sido contratados para quatro operações de fusões e aquisições nos últimos 20 dias", diz o advogado José Luís de Salles Freire, sócio do Tozzini, que afirma que a banca se mantém estável este ano e apenas duas das 50 operações do tipo em que a banca atua foram suspensas - mas não crê em taxas de crescimento recordes para 2009. Para Alexandre Bertoldi, sócio e membro do comitê diretivo e do grupo executivo do Pinheiro Neto, a expectativa é de um crescimento entre 2% a 3%, acompanhando a estimativa de crescimento do PIB - o que representa uma taxa bem menor do que a experimentada nos últimos anos. "Estamos um pouco mal acostumados a bater recordes de crescimento ano após ano, mas já não temos essa expectativa para o ano que vem", diz. 
 
Mas, ainda que 2009 traga previsões não tão otimistas, o ano corrente, diz Bertoldi, tem sido tão bom quanto o anterior. Embora o Pinheiro Neto tenha sentido os primeiros impactos da crise apenas recentemente, diante do cancelamento de algumas operações de fusões e aquisições, o escritório tem se mantido estável e dá continuidade a planos de expansão - como a contratação de quatro novos sócios e o plano de efetivar boa parte dos 35 estagiários em março do ano que vem. 
 
Cortes de pessoal também não estão previstos pela banca Barbosa, Müssnich Aragão Advogados - inclusive porque as demandas em áreas como recuperação de empresas, contencioso e direito bancário foram elevadas em decorrência da crise, afirma o advogado Bruno Soter, sócio-diretor de escritório. Ele diz que a banca mantém a meta de crescimento de pouco menos de 20% para o ano que vem, repetindo o resultado previsto para este ano e já registrado em 2007. A aposta na manutenção do ritmo de crescimento decorre, segundo Soter, de uma reformulação na estratégia da banca. "Justamente por conta da crise surgem outras espécies de fusões e aquisições - como a compra de empresas em dificuldades por outras não tão afetadas", afirma. 
 
O mesmo sentimento é compartilhado pelo advogado Ronald Herscovici, sócio do escritório Souza, Cescon Avedissian, Barrieu e Flesch. Segundo ele, não só a banca não sentiu qualquer desaceleração nos negócios até agora como percebeu um movimento maior na área de reestruturações de atividades e recuperação de empresas. "Somente algumas transações pontuais que dependiam de financiamento bancário atrasaram", afirma. O advogado Celso Costa, sócio do escritório Machado Meyer Sendacz e Opice Advogados, também estima que a banca manterá a meta de crescimento deste ano em 2009. "Prova disso é que tínhamos a proposta de fazer novos sócios em 2009 e isso não se alterou, por exemplo, e a assembléia ocorrerá em novembro", diz. Ele afirma, no entanto, que o cenário só ficará mais claro no primeiro trimestre do ano que vem. 
 
(Valor Econômico, 03.11.2008 - Caderno E1)