Ademar Couto, sócio-diretor da empresa de seleção de executivos Odgers Berndtson, tem uma percepção bem clara quando conversa com seus clientes, controladores de empresas familiares: para eles, o acesso ao mercado de capitais é difícil, complicado e caro. Se, muitas vezes, eles não conseguem falar com os grandes bancos quando precisam de financiamento, o que dirá com todo o mercado?
Para os palestrantes do Market Day, que foi realizado na quarta, 28, essa é uma barreira cultural e de falta de informação, mais do que real. Iniciativa do Estadão para aproximar empresas do mercado, o evento juntou prestadores de serviços com empresas interessadas nessa alternativa de financiamento no Palácio Tangará, em São Paulo.
“Se o produto for bom, ele vende: é só colocar na prateleira certa”, afirmou Antonio Pereira, chefe do Investment Banking do Goldman Sachs no Brasil. “Estamos num momento positivo, do ponto de vista macroeconômico e da política, com diferentes indústrias vendo a luz no fim do túnel.”
A jornalista Eliane Cantanhêde, colunista do Estadão, traçou um grande panorama do ponto de vista político, mostrando as perspectivas do novo governo. Apesar de a pauta liberal do futuro ministro da Fazenda, Paulo Guedes, ser bem vista pelo mercado, ainda há diferentes incógnitas, sobretudo na relação do presidente eleito Jair Bolsonaro com o Congresso. Historicamente, porém, os primeiros meses devem ser positivos para aprovação de reformas e a consequente retomada econômica.
Apesar da reticência dos empresários com relação a uma ida ao mercado de capitais, essa alternativa de financiamento deveria ser levada em consideração por todas as empresas que têm planos de investir e crescer, disseram os especialistas. “O mercado de capitais pode não ser a melhor alternativa em todos os momentos, mas definitivamente tem de estar na mesa de todas as companhias”, disse Tiago Curi Isaac, superintendente de Relacionamento com Empresas da B3.
Hoje, apenas 13% das empresas se financiam via mercado de capitais, mas o percentual vem crescendo, principalmente com a redução da presença das linhas do BNDES como alternativa de crédito. Há quatro anos, só 9% das empresas usavam o mercado. Já a participação do banco de investimento caiu de 15% do total para 5% no período.
Ciclo de ganhos
Segundo Curi, além de o mercado de capitais ser uma alternativa de financiamento muitas vezes mais barata do que a bancária, os efeitos colaterais causados pela busca desse tipo de recurso produzem um círculo virtuoso na gestão das empresas. Entre eles, estão os ganhos trazidos por processos formais de governança, transparência e prestação de contas.
“Das 20 maiores empresas da ‘Gazeta Mercantil’, em 1984, nove desapareceram. Se aumentarmos o número para as 100 maiores, 52 sumiram”, afirmou Sidney Ito, sócio em Riscos e Governança Corporativa no Brasil e na América do Sul da consultoria KPMG. “Companhias podem desaparecer por questão de negócios, como fusões, aquisições e incorporações, mas existem várias que somem por problemas de gestão e principalmente por falta de práticas de boa governança.”
Além de atrair investidores, os controles melhoram a precificação da empresa, facilitam o processo de sucessão familiar e a profissionalização e reduzem riscos com perdas, fraudes e de reputação.
Esses processos também atraem outras formas de investimento, como os private equities, como são chamados os fundos que investem em empresas fechadas. “Os private equities ajudam as empresas investidas a implementar políticas de boa governança e a acabar com a informalidade”, afirmou Mauro Cesar Leschziner, sócio nas áreas de M&A e private equity do escritório Machado Meyer. “Além disso, melhoram também a gestão porque se tornam um parceiro do negócio.”
O Estado de S. Paulo
http://especiais.estadao.com.br/market-day/boas-perspectivas-na-economia-devem-causar-aceleracao-do-mercado-de-capitais-em-2019/
(Notícia na Íntegra)