Anna Edgerton e Raymond
Colitt | Brasília
A China ofereceu
bilhões de dólares em empréstimos e investimentos ao Brasil em um momento em
que o país tropeça devido à desaceleração da economia e ao escândalo de corrupção
que envolve sua maior produtora de petróleo.
O Banco de Desenvolvimento
da China e a agência de financiamento de crédito à exportação do país asiático
fecharam acordos para oferecer um total de US$ 7 bilhões em financiamento à
estatal Petrobras.
E a Tianjin Airlines assinou
um contrato para compra de 22 jatos da Embraer SA, empresa com sede em São
Paulo.
Os acordos assinados durante
a visita do premiê Li Keqiang coincidem com os esforços da presidente Dilma
Rousseff para estimular a economia, que tem projeção de contração de 1,2 por
cento neste ano, o que seria seu pior desempenho em um quarto de século.
A China também disse que
estudará investimentos para expandir e modernizar estradas, portos e ferrovias
do Brasil, um gargalo do país."Os investimentos recíprocos
entre Brasil e China podem e vão significar uma melhoria na nossa situação
econômica", disse Dilma a um grupo de empreendedores de ambos os países na
terça-feira.
A China mostrou interesse em
investir US$ 53 bilhões em mineração, infraestrutura e manufatura, disse Dilma
na terça-feira. Separadamente, o banco chinês ICBC está estabelecendo um fundo
de US$ 50 bilhões com a Caixa Econômica Federal para oportunidades de negócios
bilaterais.
Primeira parada
O Brasil é a primeira parada
da visita de Li à América Latina, que também inclui Colômbia, Chile e Peru.
Um dos maiores projetos que
as empresas chinesas miram na região é a construção de uma ferrovia que ligaria
os oceanos Atlântico e Pacífico passando pelo Peru. Li disse que assinará um
acordo no Peru para estudar sua viabilidade.
A China Three Gorges Corp.
está interessada na construção da usina hidrelétrica Tapajós, na Amazônia, que
seria a quarta maior do Brasil e custaria pelo menos R$ 18 bilhões (US$ 5,9
bilhões), segundo um membro do governo que pediu anonimato.
Os dois países também
assinaram um acordo para permitir a exportação de carne bovina do Brasil para a
China. O produto está banido no país asiático desde 2012.
A mineradora brasileira Vale
SA assinou quatro acordos, incluindo um contrato de crédito que poderá chegar a
US$ 4 bilhões.
Queda nas exportações
As exportações para a China,
maior parceiro comercial do Brasil, caíram 12 por cento em 2014 devido à queda
na demanda por commodities como minério de ferro e soja.
No mês passado, o Banco de
Desenvolvimento da China ofereceu um empréstimo de US$ 3,5 bilhões à Petrobras,
justamente em um momento em que a empresa petroleira enfrentava dificuldades
para quantificar os prejuízos operacionais causados pela corrupção e pela má
gestão.
Mais de metade das
empreiteiras investigadas por pagamento de propinas também fecharão acordos com
bancos e empresas chineses, segundo Charles Tang, presidente do conselho da
Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China.
Os investidores chineses têm
uma oportunidade, no momento, porque as empresas investigadas por corrupção
enfrentam restrições no Brasil, disse José Virgílio Lopes Enei, sócio do
escritório de advocacia Machado Meyer Sendacz Opice, em um evento em São
Paulo, na terça-feira."Os chineses estão,
atualmente, competindo por projetos de infraestrutura no Brasil", disse ele."As empresas chinesas têm recursos para entrar no mercado com volumes maiores
de investimento".Exame - 20.05.2015