Responsáveis por toda a orientação sobre as questões legais em um processo de reformulação societária de uma empresa, os escritórios de advocacia tiveram um ano bastante movimentado em 2007. O aumento de IPOs, fusões e aquisições lhes impôs um ritmo de crescimento na faixa dos 30% no ano passado.
Em 2008 - quando logo em janeiro bolsas do mundo inteiro despencaram por conta de novas notícias sobre a crise do subprime americano -, as bancas já puderam sentir uma sensível diminuição na procura por abertura de capital. Mas a área de fusões e aquisições apontou o ritmo contrário.
Para José Luiz Freire, sócio do TozziniFreire Advogados, é justamente o grande movimento de compras que deve compensar a diminuição que o escritório já sente na área de IPOs. "Geralmente, quando uma empresa vai abrir o capital, primeiro ela vende uma parte da companhia para um private equity, para se valorizar antes de ir para o IPO. Essa etapa estava sendo pulada no ano passado", conta Freire.
"Com as mudanças no mercado, não dá mais para a empresa ir direto para a bolsa. As coisas devem voltar à situação normal, e o maior número de negociações com os private equities tem potencial para substituir com vantagem a desaceleração dos IPOs para nós", continua.
Mauro Leschziner, sócio do Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados, nota a mesma tendência entres os clientes a que atende, depois do "boom" de IPOs que testemunhou no ano passado. "Hoje estamos vendo muita empresa que está às portas de abrir o capital receber propostas de um private equity ou um parceiro financeiro, para ir para o IPO com uma estrutura diferente, mais forte", conta o advogado.
Para Leschziner, o contra-fluxo entre IPOs e fusões e aquisições se dá porque a exposição à bolsa de valores depende do apetite do investidor especulativo, natureza diferente dos processos de fusões e aquisições. "No caso dos M&As (em inglês, mergers and acquisitions - fusões e aquisições), a empresa tem um investidor estratégico, é um player do mercado, está em determinada área e tem interesse em crescer. Não depende das chamadas janelas de oportunidades, que pautam o investidor especulativo", explica.
Segundo o sócio, se a crise americana realmente inibiu o mercado, o Machado Meyer ainda não sentiu a diferença. "Minha agenda para todo o primeiro semestre já está completamente tomada. E os Estados Unidos continuam sendo nosso foco principal. Mais de 70% das negociações que acompanhamos ainda partem de lá", comenta.
No escritório Pinheiro Neto, as rotas contrárias de fusões e aquisições e IPOs também destoam do desempenho registrado no ano passado, quando o faturamento do grupo subiu entre 25% e 30% em relação a 2006.
Neste início de 2008, os IPOs não chegam nem a 20% do que movimentaram nos dois primeiros meses do ano passado, calcula o sócio Alexandre Bertoldi. Por outro lado, o advogado acredita que a área de M&A tem fôlego para manter um avanço na mesma faixa de até 30% dentro do escritório. "Os IPOs estão sofrendo. Vai ser difícil continuar como em 2007, que foi um ano sem precedentes, o melhor ano na história do escritório", conta Bertoldi. "Por outro lado, esses dois primeiros meses mostram um ano bom para os M&A. Janeiro e fevereiro tiveram um movimento recorde para nós."
(Gazeta Mercantil 12.03.2008/Finanças & Mercados - Pág. 1)