A demora na liberação dos saques em dinheiro do auxílio emergencial de R$ 600 - somente a partir de 18 de julho, os saques em dinheiro começam a ser autorizados - criou um mercado paralelo de anúncios prometendo a liberação antecipada dos valores ou a transferência dos recursos para outra conta antes do calendário oficial da Caixa e da autorização do banco.

As páginas na internet oferecem caminhos para o acesso ao dinheiro das parcelas que já foram depositadas no aplicativo Caixa Tem, mas ainda estão bloqueadas para saques e transferências bancárias, com liberação somente para pagamento de boletos e compras. Para especialistas, trata-se de um golpe aplicado por estelionatários para obter dados de beneficiários e ficar com parte ou todo o dinheiro do benefício. Ha ainda cobrança por serviços que não serão prestados. Já em comunidades do Rio criminosos prometem antecipar cerca de 60% da parcela se forem autorizados a retirar toda a cota depois da liberação para o saque em dinheiro.

Os anúncios em grandes sites de comércio eletrônico oferecem os serviços de transferência em diversos estados como Rio de Janeiro, Sergipe, Amapá e Amazonas.
Em um deles, o estelionatário afirma que consegue transferir o auxílio que só poderia ser sacado em setembro para uma conta de uma plataforma que permite receber e fazer pagamentos online. Questionado sobre o procedimento para transferência do dinheiro, o anunciante que se identifica como Mara Farias afirma que é possível fazer a transferência virtualmente para uma conta:

- O seu dinheiro já caiu na conta digital? Se sim, dá pra fazer um tipo de transferência pelo mercado pago. Simples, você abre o app do Caixa Tem e depois faço o procedimento no mercado pago e transfiro o dinheiro pra uma conta que você desejar. Moça, é eu que tenho (conta na plataforma). Você vem até em minha residência pra fazer os procedimentos e depois transfere pela uma conta (sua) - sugere.

Os golpistas também dizem que o saque é possivel através de suas carteiras digitais. Em outros casos, o anunciante promete ajudar a fazer a transferência "antecipada" e cobra uma taxa de R$ 30.

Para Juliana Sá, sócia de penal do escritório Machado Meyer, os beneficiários que estão recorrendo a estes anúncios correm risco de serem vítimas de crimes como estelionato ou apropriação indébita do valor de seus benefícios. Em muitos casos, ou o golpista cobra uma taxa para fazer serviços e não entrega o prometido, ou se apropria do dinheiro das vítimas.

Segundo ela, os golpistas se aproveitam do momento de fragilidade de pessoas que dependem e precisam do dinheiro em um momento em que estão sem renda por causa da pandemia do novo coronavírus para fazer vítimas:

- A pessoa super enforcada. No desespero, as pessoas não conseguem nem pensar. Tem fraude para todo lado. E precisa ficar claro que, embora seja crime, em muitos casos é difícil punir este crime. A vítima não tem um lugar físico para cobrar, não tem nome verdadeiro da pessoa. A chance de conseguir punir e reaver o dinheiro é pequeno - alerta .

Emilio Simoni, diretor do laboratório especializado em segurança digital da PSafe(do dfndr lab), explica que os beneficiários devem ficar atentos aos pedidos para enviar informações pessoais pela internet:

- Evite fornecer seus dados pessoais a desconhecidos e clicar em links enviados por redes sociais - afirma.


(Extra - 02.07.2020)