Esta coluna manteve contato com Tang Wei, diretor-geral da Câmara Brasil-China de Desenvolvimento Econômico (CBCDE), baseada em São Paulo. Tang Wei conhece as duas realidades, pois é chinês, filho de diplomatas daquele país, e, com 42 anos, está há 19 no Brasil, onde obteve cidadania. No Brasil, Wei é consultor chefe de um dos maiores escritórios de advocacia, o Machado Meyer, com sede em São Paulo e representações em diversas capitais. Comenta Wei que, quando chegou ao Brasil, há quase duas décadas, o país estava bem à frente da China, o que hoje não ocorre.
- O Brasil não tem condições de concorrer com a indústria chinesa. Não há demérito algum em lucrar com os dólares gerados por minério de ferro e soja. Países de Primeiro Mundo, como Austrália, Noruega e Canadá, se beneficiam da venda de itens primários e o Brasil tem um Eldorado pela frente com base no agronegócio e no minério.
A um só fôlego, acrescenta Wei que, no seu entender, o Brasil deveria usar o dinheiro da exportação de itens primários - segmento que se valorizou imensamente nos últimos anos - para fazer o que a China fez: investir em educação básica; criar centros de pesquisa vinculados à indústria; e, principalmente, montar uma boa infra-estrutura, com ferrovias, portos, estradas, saneamento e habitação. Segundo Wei, em um ponto o Brasil ainda supera a China: o nível de vida do povo. Mesmo assim, a China está se crescendo nesse quesito e pretende, a curto prazo, atingir dois objetivos: passar a exportar itens cada vez mais sofisticados e ampliar seu mercado interno - o que pressupõe maior consumo de bens no próprio país.
Admite que a escalada da China se parece com o que ocorreu com Japão e Coréia, só que os resultados da China são mais impressionantes. Wei vê na imprensa críticas ao fato de o Brasil comprar artigos industriais e vender matéria-prima à China, mas acrescenta ser isso natural e destaca que, cada dia mais, a China pretende exportar produtos de alta tecnologia. Cita que, em 1974, o fluxo de comércio entre os dois países era inferior a US$ 1 bilhão e, em 2009, atingiu US$ 40 bilhões, com expansão de 50% em 2010. Em 2010, o Brasil exportou US$ 37 bilhões e importou US$ 32 bilhões, mas com uma diferença: de parte da China, 97% foram itens industriais e, do lado do Brasil, apenas 5% foram manufaturados.
Para 2011, Wei prevê alta novamente expressiva no fluxo de comércio. Recentemente, o governo chinês anunciou intenção de reduzir o crescimento anual, de 10% para 7% ao ano, para evitar inflação, mas está sendo difícil cumprir essa restrição, pois o governo de lá tem muita preocupação com desemprego - afinal, o país tem 1,3 bilhão de bocas a serem alimentadas.
(Monitor Mercantil Digital - www.monitormercantil.com.br 20.06.2011)
(Notícia na Íntegra)
