Escritório de advocacia Machado Meyer criou programa para evitar que funcionárias deixem a empresa depois de terem filhosQuando Julia Coimbra, de 33 anos, voltou a trabalhar após o fim de sua licença maternidade em abril de 2011, ela vivia um dilema conhecido pelas mulheres que começam a formar uma família: “como equilibrar o tempo entre o trabalho e a vida familiar?”. O pequeno Francisco tinha, então, pouco mais de quatro meses de vida e a advogada do escritório Machado Meyer temia não conseguir suprir todas as necessidades do filho, sem que isso afetasse a sua carreira. Para a sorte de Julia, antes de retornar ao trabalho, o escritório de advocacia onde trabalha criou um programa para facilitar a conciliação de horários entre as obrigações do trabalho e as exigências familiares das advogadas. A ideia de criar o programa veio depois de pesquisa feita pelo RH da empresa, que mostrava dados curiosos: proporcionalmente, o número de mulheres diminuía muito nos níveis hierárquicos mais altos do escritório. “Percebemos que quando as advogadas chegavam mais perto de se tornarem seniores, muitas saíam da empresa em busca de um trabalho com carga horária menor, justamente para conseguirem se dedicar mais aos filhos e à vida em família”, explica Ana Karina Esteves, uma das idealizadoras do projeto “Mulheres na Machado Meyer”. Segundo ela, o programa – lançado no início do ano passado – tem o objetivo de reter talentos. Julia, considerada um dos talentos da empresa, foi uma das beneficiadas pelo programa. Para ela, dava muita segurança saber que a empresa em que trabalhava pensava na maternidade como uma fase que merece mais atenção. “Acho que só o fato de o escritório mostrar uma preocupação em relação a isso é reconfortante”, diz. Mudanças Uma das principais medidas do programa é dar maior flexibilidade de horários às advogadas. Laura Souza, de 35 anos, foi outra beneficiada do programa. Mãe de Ligia, de um ano e 9 meses, a advogada está conseguindo acompanhar a adaptação da filha na escolinha sem culpa. “Fico com a Ligia todos os dias pela manhã e depois vou trabalhar”, diz. Segundo ela, os colegas receberam bem a mudança no horário. “Acho que o próprio discurso do programa esclarecia que essa flexibilidade não nos tornava menos capazes ou menos disponíveis”. Julia conta também que os outros profissionais do escritório se identificaram com essas alterações. “Não é um tema alheio às pessoas. A maioria dos advogados que trabalham conosco também têm filhos e entendem que a mãe precisa ter uma agenda mais maleável”. As profissionais também passaram a ter acesso ao sistema do escritório em seus computadores pessoais, o que antes não era possível. Dessa maneira, assim que o filho pega no sono, as advogadas podem voltar ao trabalho. Além do programa, o escritório trouxe uma terapeuta para conversar com as advogadas sobre os dilemas da vida de mãe e profissional. Nesse aspecto, elas também podem contar com a ajuda das próprias sócias – que realizam sessões de “mentoria”, onde dão conselhos de quem já passou pela maternidade, conseguiu manter o ritmo de trabalho e galgou postos até atingir a posição mais alta da empresa. A flexibilidade não nos torna menos capazes ou menos disponíveis" Laura Souza, advogada Depois de um ano, o programa obteve bons resultados. De 2010 para 2011, 10% das advogadas conseguiram crescer dentro do escritório. Segundo Ana, esse foi o maior resultado dos últimos cinco anos no Machado Meyer. “Antes, esse número não passava dos 5%”, diz. Essa quantidade, no entanto, é o menor dos ganhos, já que o projeto criou uma verdadeira cultura de respeito à mulher e à maternidade na empresa. “Os advogados perceberam que ter um filho é um plano e uma meta na vida, da mesma maneira que formar uma carreira”, afirma Julia. (Época Negócios - http://epocanegocios.globo.com 08.03.2012) (Notícia na Íntegra)