Por Ana Paula Ragazzi, Graziella Valenti e Silvia Fregoni, de São Paulo
 
A possibilidade de obter dinheiro mais barato é o benefício mais evidente que o grau de investimento do Brasil proporciona às companhias brasileiras, e a expectativa das empresas em ter acesso a esses recursos ficou reforçada ontem, quando a Fitch também melhorou a >
 
A Equatorial Energia espera que o novo status soberano, que ratifica as boas condições da economia doméstica, ajude a empresa no seu programa de expansão. Está nos planos a aquisição de duas térmicas no Maranhão e também alguns negócios de porte maior.
 
O grau de investimento referendado por duas agências possibilitará condições mais favoráveis para concretizarmos essas operações, se for o caso, afirma o diretor de relações com investidores, Leonardo Dias. A empresa terá de captar recursos para sair às compras e poderá fazer isso a custos menores, segundo ele.
 
A empresa do ramo imobiliário Lopes Brasil também acredita que a nova nota do Brasil ajudará no movimento de fusões e aquisições no país. O grau de investimento traz mais dinamismo para a economia, e as economias mais dinâmicas tendem a ter mais operações, diz o coordenador de relações com investidores, Diego Barreto. O setor imobiliário foi o que liderou o ranking de fusões e aquisições no ano passado. A Lopes comprou sete empresas em 2007, sendo que a maior é a Patrimóvel, cujo valor de aquisição pode alcançar R$ 250 milhões.
 
Para o presidente da empresa do ramo de calçados Alpargatas, Marcio Utsch, um impacto positivo da nova >
 
O presidente da Bematech, Marcel Malczewski, afirma que os impactos do grau de investimento para a empresa deverão ser sentidos, principalmente, na cotação de suas ações. Os papéis sofreram por conta da crise do suprime nos Estados Unidos, mas também por dificuldades enfrentadas pela Bematech na integração de uma empresa de softwares - problemas que já foram resolvidos, diz.
 
Esse cenário representou uma mudança no perfil dos nossos investidores. Com os players internacionais saindo das ações menos líquidas brasileiras, nossa base de acionistas mudou. No momento do IPO, dois terços eram de estrangeiros. Agora, essa proporção é de brasileiros, diz.
 
Malczewski conta que, na semana passada, participou de um evento organizado pelo Itaú BBA em Nova York e notou que os estrangeiros já mostraram interesse renovado nos papéis da companhia. Tivemos contato com um fundo administrado por americanos, mas que representa investidores da Ásia, em grande parte do Japão, e que antes não podiam investir em Brasil, pois o país não era considerado investimento seguro. Notamos que este investidor pede muito mais detalhes sobre a atividade da empresa e seus planos e quer fazer um estudo e acompanhamento mais aprofundado das operações antes de decidir-se pelo investimento.
 
A Companhia de Concessões Rodoviárias (CCR), que já esperava conseguir melhores condições para o financiamento do Rodoanel, está agora ainda mais confiante. Tanto os financiamentos via emissão de dívida como os de project finance, como é o nosso, devem passar a ter melhores condições de taxa e prazo no mercado internacional, diz o diretor-financeiro e de relações com investidores, Arthur Piotto. A empresa financiará 80% dos R$ 2 bilhões que terá de pagar em até 12 meses pelo trecho oeste do Rodoanel, na região metropolitana de São Paulo, cuja concessão conquistou em março.
 
O mercado de ações também deve voltar a contribuir com a capitalização das empresas mais ativamente. Já é possível começar a pensar que 2008 pode ser melhor do que o imaginado para listagem de novas companhias - desde que em grandes operações.
 
Desde o grau de investimento anterior, Marcos Rafael Flesh, advogado sócio do Souza, Cescon Avedissian, Barrieu e Flesch, sentiu que os negócios aceleraram, tanto para aberturas de capital quanto para fusões e aquisições. Viram que o mundo não havia acabado, disse, sobre a crise internacional.
 
Voltou a crescer a lista de empresas que aguardam aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para ofertar papéis na bolsa. Mas nem de longe teremos um ano como 2007, especialmente para os pequenos e médios negócios. No ano passado, as colocações totalizaram quase R$ 70 bilhões - 80% por novas empresas. Neste ano, as distribuições movimentaram R$ 7,7 bilhões na bolsa, mas só 10% foi obtido por estreantes.
 
Carlos Motta, advogado da Machado, Meyer, Sendacz e Opice, comenta que diversos processos que estavam paralisados tiveram os trabalhos reabertos no escritório. Só essa semana, eu, pessoalmente, retomei uns três. O escritório todo deve estar cuidando de uns dez.
 
Entre os investidores ainda há ceticismo. Predomina a avaliação de que só grandes colocações conseguirão sucesso, combinadas a histórias de crescimento. O cenário para as médias empresas - maioria das estreantes de 2007 - só deve melhorar se as cotações das novatas na bolsa também se recuperar dos tombos da crise.
 
(Valor Econômico 30.05.2008/Caderno D9)