Apesar do estreitamento recente, as relações comerciais entre Brasil e China já existem, desde a fundação da Repúbli‑ ca Popular da China. Bastante afetadas pela distância geográfica entre os dois países, as relações comerciais apresentavam um tímido volume, pouco inferior a US$ 8 milhões, na década de 50. Esse quadro se transformou na década 60 e os números cresceram, demonstrando a afinidade entre os mercados. Em março de 1964, entretanto, com a modificação do cenário político do Bra‑ sil, o comércio entre os dois países foi interrompido.
De lá até aqui, muita coisa aconteceu e as relações mudaram bastante de figu‑ ra. Com o devido respeito ao potencial dos demais integrantes, pode‑se afirmar que Brasil e China são atualmente os grandes destaques do Bric. Ambos crescem a taxas muito superiores àquelas experimentadas pelos países desenvolvidos. Além da cultura particular no ambiente de negócios, China e Brasil guardam peculiaridades pouco vistas entre outros players de mesmo porte. Em uma via de mão-dupla, os dois se complementam, o que impulsiona o crescimento de ambos.
O avanço da China na importância para o mercado nacional se dá por seu crescimento em diversos setores, fenômeno visto na procura por commodities brasileiras em segmentos como de mineração (cobre), alimentos (soja), energia (petróleo), entre outros. Na outra ponta desta relação, o consumo brasileiro cresce a passos largos no setor de manufaturados e as empresas brasileiras começam a se expandir na aquisição de empresas estrangeiras de diversos se‑ tores, inclusive na prestação de serviços em geral, serviços bancários e consessões de serviço público.
No horizonte, essa relação só parece se fortificar – para alguns economistas a fatia da China na Balança Comercial com o Brasil caminha para um distanciamento dos outros parceiros. Hoje, os produtos chineses representam 14,95% do total dos importados, enquanto que o país asiático recebe 12,4% das exportações brasileiras, de acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Alguns especialistas apontam que o cenário permanecerá assim até que o Brasil atinja um nível mais alto de industrialização, o que deve levar alguns anos. Até lá, o Brasil deve ser ainda conhecido pelas commodities, enquanto a China seguirá enviando produtos manufaturados, mas também investimentos nos mais diversos setores, tais como infraestrutura, agrícola, entre outros.
A corrente total de comércio entre as duas nações somou US$ 14,3 bilhões (R$ 22,9 bilhões) no primeiro trimestre, 13,93% do total de tudo que o Brasil enviou e recebeu do restante do mundo. Na comparação com os EUA, nossos tradicionais parceiros comerciais, desde 2009 os chineses apresentam números superiores nas negociações com o Brasil. Naquele ano, o comércio sino brasileiro somou US$ 36,9 bilhões (R$ 61,5 bilhões), contra US$ 35,6 bilhões (R$ 59,3 bilhões) de exportações e importações com os americanos.
Os programas de BDRs patrocinados enfrentam alguns problemas, como o de liquidez, devido à regulamentação cambial, que impedia o investidor estrangeiro de comprar ações da companhia patrocinadora do programa em seu país de origem e transformá-las em BDRs. Confirmando‑se o entendimento de que a Circular 3.525, de 10 de fevereiro de 2011, do Banco Central do Brasil, permite a conversão de ações em BDRs, os programas passarão a contar com maior atratividade e liquidez. Já os programas de BDRs não patrocinados fizeram sua estreia na BM&FBovespa em 2010 e vê-se com otimismo a sua negociação.
Ações emitidas por empresas brasileiras são negociadas no exterior tanto quanto diretamente por meio de depositary receipts, a exemplo de Vale, Petrobras, Eletrobras, Usiminas e Gerdau, que são negociadas no Lati‑ bex, mercado internacional criado em dezembro de 1999 e exclusivo a valores mobiliários de emissão de companhias latino‑americanas.
A negociação de depositary receipts de ações emitidas por companhias brasileiras em bolsa de valores no exterior requer a celebração de convênio entre bolsa nacional e estrangeira, como o convênio celebrado entre BM&FBovespa e a Bolsa de Valores de Hong Kong, no processo de listagem de depositary receipts da Vale na China, bem como o cumprimento das exigências da regulamentação local.
Esforços para fomentar a liquidez dos BDRs são bem-vindos e parte importante do crescimento do nosso mercado de valores mobiliários. A celebração de novos convênios aumenta a presença de valores mobiliários emitidos por brasi‑ leiras no exterior. O que se pergunta é: será que estes esforços culminarão na existência de um mercado de valores mobiliários sem fronteiras, onde ações de companhias abertas serão negociadas diretamente em qualquer mercado?