A volatilidade do mercado brasileiro, diante de mais instabilidade política, deve colocar muitas operações de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) em compasso de espera, ao menos no início de 2017. Por outro lado, a despeito do rol de incertezas, os acordos de leniência das companhias envolvidas na Operação Lava Jato que começam a ser fechados devem trazer à mesa ativos que têm potencial para movimentar bilhões nesse mercado.
O número de negócios no radar é grande, mas o quadro político doméstico e as incertezas no front externo, como a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, por exemplo, vêm postergando algumas transações, conta o chefe da área de M&A do BTG Pactual, Marco Gonçalves. A despeito desse cenário, a indicação, segundo ele, é de um ano pujante em fusões e aquisições em 2017.
Além das empresas citadas na Lava Jato, diz, há ainda as companhias endividadas que buscarão monetizar ativos para reduzir a alavancagem, além da continuidade da venda de ativos da Petrobrás e, por fim, o movimento esperado no setor de infraestrutura. "A incerteza política atrapalha o investimento, mas há oportunidades muito boas", destaca Gonçalves.
Em paralelo, o movimento de consolidação já observado em 2016, com investidores estratégicos liderando esse processo, deverá ainda marcar o próximo ano, aponta o diretor gerente do Bradesco BBI, Leandro Miranda.
"Há grandes grupos trabalhando para ocupar espaços que estão sendo deixados no mercado. Estamos virando o ano com o maior pipeline da nossa história", diz Miranda. Um dos impulsionadores para esse movimento, segundo o executivo, é a busca por sinergias.
Em meio a isso, instabilidade e enorme volatilidade afetaram o número de transações neste ano, mas existe ainda a expectativa de que muitas operações já em curso sejam fechadas em 2017. De acordo com dados da consultoria PWC, no período de janeiro a outubro, foram anunciadas 490 negociações, queda de 21% em relação ao observado no mesmo período do ano anterior.
A economia melhorou menos do que se esperava. Em M&A, há algumas grandes operações a serem realizadas, mas há, novamente, um compasso de espera da retomada da economia real, limitando o ritmo que poderia ser", destaca o chefe do banco de investimento do Bank of America Merrill Lynch, Hans Lin.
Reinaldo Grasson, sócio da consultoria Delloite, acredita que haverá no próximo ano uma certa retomada da confiança, diante de um cenário de redução da taxa de juros e da inflação, além de melhor atividade da economia.
"Isso facilita as transações. Isso pode ajudar a destravar operações que ficaram represadas neste ano", destaca. Segundo ele, existe ainda um ambiente externo com elevada liquidez convergindo com ativos brasileiros, que a despeito das incertezas, são atrativos.
Limitação. Gonçalves, do BTG, afirma que a instabilidade política acaba limitando o número de novos investidores estrangeiros no Brasil, mas aqueles que já têm presença em território brasileiro e que, assim, conhecem a dinâmica do País, têm grande chance de aumentar a presença. "Quem conhece Brasil está se beneficiando", conclui.
A sócia da área de M&A do escritório Machado Meyer, Adriana Pallis, reconhece que os investidores estrangeiros estão olhando com mais cuidado para o Brasil. "Com a mudança do governo, todo mundo estava otimista de que a economia iria se estabilizar, os grandes projetos aconteceriam, mas o ritmo está mais lento do que o esperava", afirma a advogada.
(O Estado de S. Paulo)
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