Renato Rostás e Ivo Ribeiro

Após um longo período de negociações com seus sócios asiáticos - uma trading japonesa e um grupo de siderúrgicas do Japão, Coreia do Sul e Taiwan -, a Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) anunciou ontem que firmou "acordos prevendo a combinação dos negócios de mineração e parcela da logística correlata de CSN e Namisa". Segundo a empresa, esses ativos serão segregados em uma nova companhia de mineração.

Ainda sem detalhes de como será desenhada a combinação desses ativos, investidores e analistas de bancos trabalhavam ontem com a ideia de que os sócios asiáticos da terão na nova empresa uma participação de 10% a 15%. O plano envolve a fusão da Namisa, na qual a CSN tem 60% e o grupo asiático 40%, com a mina de ferro Casa de Pedra, além de participações em ferrovias e porto.

Analistas consultados pelo Valor acreditam que, levando em consideração a capacidade próxima a 40 milhões de toneladas por ano de Casa de Pedra, que é 100% da CSN, e algo próximo a 20 milhões de toneladas de perspectiva da Namisa, a fatia que os asiáticos possuem hoje na atual empresa ficaria em até 15%. O BTG Pactual, contudo, enviou relatório a clientes no decorrer do dia, no qual projetava de 15% a 20%. Atualmente, a Namisa opera no nível de 7 milhões de toneladas/ano.

O banco, contudo, admitiu que a siderúrgica controlada pela família Steinbruch, dona de mais de 50% do capital acionário, não forneceu maiores detalhes sobre a operação e que cálculo ainda era inicial. Não se sabe quem deverá aportar recursos ou como será a estrutura da nova empresa, o processo de cisão de Casa de Pedra e das participações de logística.

Fontes ligadas ao consórcio asiático disseram que há um desenho prévio de como a transação será realizada, mas os parâmetros ainda não estão fechados. A expectativa é que a CSN continue forçando para melhorar as condições financeiras de sua proposta até 12 de dezembro, data fixada para que os conselhos de administração decidam se aprovam ou não a fusão.

Procurada, a CSN não concedeu entrevista para explicar o acordo preliminar com os sócios.

O Valor apurou também que, como o acordo ainda é preliminar e provavelmente serão feitos aditivos ao contrato, as parceiras da CSN não esperavam que o tema já fosse divulgado ao mercado. Não se sabe ainda se o motivo foi o vazamento de informação, mas a ideia era revelar a associação quando as condições já estivessem todas concluídas.

A participação dos sócios asiáticos na Namisa pertence, em diferentes fatias, à Itochu, JFE Steel, Kobe Steel e Nisshin Steel, do Japão, à sul-coreana Posco e à China Steel, de Taiwan. O Itaú BBA é o assessor financeiro do grupo na negociação e o escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice, na área jurídica. Goldman Sachs e Barbosa, Müssnich e Aragão assessoram a CSN.

Em relatório dos analistas Artur Losnak e Yannick Bergamo, a Fator Corretora destacou ontem que a forte desvalorização do minério de ferro no mercado à vista provavelmente vai minar os potenciais ganhos da CSN com o negócio. Para a eles, o preço deve ser adverso.

Porém, tanto a Fator como o BTG dizem que o negócio pode aliviar a pressão que incide sobre as ações da companhia desde que o imbróglio veio à tona. Os investidores temiam que CSN fosse obrigada a desembolsar caixa para readquirir os 40% dos sócios asiáticos, o que pressionaria ainda mais sua saúde financeira. "Entretanto, continuamos cautelosos em relação ao papel. Ainda está pouco claro o quanto de valor a transação pode criar para a CSN e continuamos antecipando uma alavancagem cada vez maior daqui para frente", dizem Leonardo Correa e Caio Ribeiro, no relatório do BTG.

As ações da CSN, depois de subirem quase 7% na máxima de ontem, a R$ 7,13, terminaram em alta de 1,2%, cotados em R$ 6,76.

Valor Econômico - 25.11.2014, p. B4