Os 98 terminais portuários cujas
concessões estão prestes a vencer, e cujo destino ainda está em debate no
governo, responderam por 54% das 309 milhões de toneladas movimentadas nos
portos públicos brasileiros em 2011, entre granéis líquidos, sólidos e carga
geral (que inclui contêineres), segundo lista obtida pelo Valor e que circula
entre o setor privado. Dentro dessa quase centena de terminais,
executivos do setor apontam que os mais importantes, e que devem atrair grande
interesse caso haja alguma decisão por relicitação, são os que movimentam
cargas de alto valor agregado, entre os quais se destacam terminais de
contêineres e de cargas de projeto (Intermarítima e Rodrimar) e de veículos
(Deicmar).
A Intermarítima, por exemplo,
respondeu por 60 mil contêineres, quase 35% da movimentação de contêineres no
porto de Salvador (BA) em 2011. A Deicmar, no porto de Santos (SP), escoou no
ano passado 230 mil veículos, o equivalente a 53% da movimentação de automóveis
em Santos, ou 27% do que todos os portos do Brasil operaram dessa carga no
período.
No segmento de grãos, um dos
terminais mais citados é o da cooperativa agropecuária Coamo, no porto de
Paranaguá (PR). A instalação escoou 95,2% das 2,59 milhões de toneladas
exportadas pela associação de mais de 24 mil cooperados em 2011. O restante a
Coamo enviou pelos portos de Santos e de São Francisco do Sul (SC). Ainda no
setor de líquidos estão os terminais da Braskem nos portos de Aratu (BA) e de
Rio Grande (RS), essenciais para abastecer os polos da indústria petroquímica.
Com a inserção definitiva do Brasil
no cenário econômico mundial os portos passaram a galvanizar o interesse do
mercado. Nos últimos 20 anos finalizados em 2011 a corrente de comércio
brasileira saltou de US$ 52,6 bilhões para US$ 482 bilhões. Pelo menos 75%
desses valores entraram ou saíram do país pelos portos. Qualquer área
disponível é alvo de cobiça. "Santos ainda é a joia da Coroa, o sonho de
consumo", diz Mauro Penteado, do Machado, Meyer, Sendacz e Opice
Advogados, escritório de advocacia procurado por grupos internacionais em
busca de áreas no litoral do Brasil.
O grande filão em Santos é o cais do
Saboó. É uma região ocupada, a rigor, por quatro empresas. Como três delas são
contíguas e estão com os contratos vencendo, a estratégia seria realizar uma
única licitação, ofertando ao mercado uma área integrada de aproximadamente 207
mil metros2, segundo números da Companhia Docas do Estado de São Paulo
(Codesp). Hoje, os terrenos são operados pelas empresas Deicmar, Termares e
Rodrimar. Também o segmento de líquidos interessa ao mercado, num cenário de
descobertas no pré-sal. A área ocupada pela Granel Química, da multinacional
Odfjell, tem mais de 54 mil metros2 em um terreno localizado na Ilha Barnabé,
na margem esquerda (Guarujá).
A tese da Associação Brasileira de
Terminais Portuários (ABTP) de adaptar os contratos portuários vencidos ou
prestes a vencer ganhou apoio de um setor importante. As empresas de
combustíveis aderiram ao pleito encabeçado pela ABTP. Segundo Alísio Mendes
Vaz, presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de
Combustíveis e de Lubrificantes (Sindicom), os Estados do Pará, Maranhão,
Alagoas e Paraíba dependem integralmente dos combustíveis movimentados por dez
terminais portuários das empresas BR Distribuidora, Raízen (que reúne os ativos
da antiga Esso, Shell, Sabbá e Cosan) e Ipiranga (que incorporou os ativos da
Chevron Texaco) localizados em portos desses Estados. No ano passado, essas
instalações movimentaram 5 bilhões de litros de combustíveis, o equivalente a
7% do consumo nacional, afirmou Vaz. "Nos casos do Pará e do Maranhão não
existem alternativas próximas. Qualquer disfunção poderia gerar risco no
abastecimento."
O Sindicom levou o pleito à Agência
Nacional do Petróleo (ANP), para tentar cerrar fileiras pela necessidade de
adequação dos contratos das empresas. A ANP disse, por meio de nota, que não se
manifestaria sobre o assunto.
Os contratos dos 98 terminais foram
feitos antes da Lei dos Portos, de 1993, que instituiu a necessidade de
licitação para a iniciativa privada prestar serviços portuários. Até então, a
operação privada em porto restringia-se quase a um contrato de locação que era
firmado sem necessidade de licitação. O acordo era válido por dez anos e com
possibilidade de renovações sucessivas. As empresas pagavam às companhias docas
(as representantes da União nos portos) apenas pelo uso da terra.
A Lei dos Portos mudou as regras.
Além de instituir a necessidade de licitação, limitou o tempo dos arrendamentos
em até 50 anos (25 mais 25). As novas regras introduziram critérios como a
movimentação mínima de carga e indicadores de serviço e determinou que os
contratos antigos fossem adaptados a ela no prazo de 180 dias, por meio da
incorporação das novas cláusulas. Entre as novas regras estava a possibilidade
de prorrogação do contrato por uma única vez. O governo, contudo, não conseguiu
adaptar todos os contratos no período. As empresas tentam desde então a
adaptação.
"Não é correto dizer que
buscamos prorrogar os prazos, mas sim adaptar os contratos aos parâmetros da
Lei dos Portos", afirma Wilen Manteli, presidente da ABTP. Segundo ele,
foi criada uma providencial confusão entre os termos "adaptação dos
contratos" e "renovação dos prazos". Essa confusão teria
retardado a própria compreensão do tema por parte do governo, que temia o viés
negativo de abrir mão da possibilidade de realizar as licitações, deixando de
arrecadar com os ágios dos leilões.
A ABTP aposta em um parecer da
Advocacia-Geral da União (AGU), de julho de 2011, que admite a prorrogação dos
contratos celebrados antes de 1993 pelo prazo máximo igual ao originalmente
pactuado, como forma de adequá-los à lei e mitigar as diferenças em relação aos
firmados depois dela.
Segundo a ABTP, devido à incerteza da
situação, os terminais estão com investimentos represados da ordem de R$ 10,3
bilhões.
(Valor Econômico 30.05.2012/Caderno A2)
(Notícia na Íntegra)