Não é de hoje que empreendimentos corporativos nos grandes centros comerciais e financeiros buscam certificações de sustentabilidade para atender à demanda de multinacionais. Desde 2004, a Organização das Nações Unidas (ONU), por meio do Pacto Global, estimula o diálogo com instituições financeiras e empresas privadas de diferentes setores sobre a necessidade de adoção de práticas de negócios sustentáveis abrangendo aspectos socioambientais e de governança, conhecidos pela sigla ESG (Environmental, Social and Governance).

A partir dessas discussões, em 2015, a ONU estabeleceu 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) para guiar políticas, ações e metas de seus países-membros (como o Brasil) rumo à prosperidade social, ambiental e econômica dos povos até 2030. Nesse contexto, as empresas vêm aderindo ao Pacto Global da ONU e incorporando a visão ESG em suas atividades, com reflexos para o mercado como um todo.

Impulsionado pelos compromissos ESG, o setor imobiliário brasileiro vivencia uma crescente demanda por práticas sustentáveis, sociais e transparentes, o que ressalta a importância da obtenção de certificações no setor.

Embora a demanda ainda esteja concentrada principalmente no alto padrão, já é possível ver iniciativas em relação aos demais empreendimentos também. É inegável que o custo de empreendimentos alinhados aos princípios ESG ainda é mais alto, mas os benefícios compensam (reputação do desenvolvedor, apelo à geração Z, maior atratividade em razão da redução de custos operacionais etc.). Nesse contexto, é imprescindível destacar a interdependência entre o setor imobiliário e a construção civil, que é um dos maiores consumidores de recursos elétricos e naturais.

Ao adotar os princípios do ESG, as empresas do setor imobiliário podem implementar medidas para aumentar a eficiência energética dessas edificações (novas ou retrofitadas, seja durante sua construção ou em sua operação), reduzindo seu consumo de energia e diminuindo suas emissões de carbono. Além disso, a certificação ESG incentiva uma gestão mais eficaz dos resíduos, promovendo a reciclagem, a reutilização e a redução do desperdício, o que contribui para a sustentabilidade ambiental.

Em termos de governança, as empresas podem estabelecer políticas transparentes e éticas para garantir uma gestão responsável dos recursos, além de promover a prestação de contas e a transparência nas operações.

Ao mesmo tempo, são incentivadas práticas de inclusão social, como a acessibilidade para pessoas com deficiência e a criação de espaços comunitários, criando ambientes mais acolhedores e integrados para todos os membros da comunidade.

Essas iniciativas não apenas melhoram o desempenho ambiental das edificações, mas também promovem a responsabilidade social corporativa e fortalecem a conexão das empresas com as comunidades em que operam, refletindo uma governança sólida e transparente. Como reflexo disso, já se observa no mercado a valorização desses imóveis, resultado direto da crescente demanda por propriedades que incorporam esses padrões.

Além da valorização dos empreendimentos que adotam a certificação ESG, cabe ressaltar as condições de financiamento mais favoráveis oferecidas pelos bancos para projetos que atendam a esses critérios. Isso se deve ao reconhecimento do valor agregado e da menor exposição a riscos associados a práticas sustentáveis.

Os governos também vêm implementando políticas e programas de incentivo para projetos que buscam a certificação ESG. Entre os incentivos mais comuns estão a possibilidade de compensação ambiental em construções urbanas, descontos no IPTU e priorização no processo de licenciamento do empreendimento. Essas medidas estimulam a adoção de práticas sustentáveis no setor imobiliário e contribuem para o desenvolvimento de uma economia mais equilibrada.

Para obter a certificação ESG, as empresas devem passar por uma avaliação abrangente de seus impactos ambientais, políticas de inclusão social e práticas de governança corporativa. Isso pode incluir auditorias de emissões de carbono, análise da diversidade e inclusão nos locais de trabalho, bem como revisão de políticas internas relacionadas à ética e à transparência. O guia ESG do Secovi pode ser uma referência inicial para as empresas do setor.

A certificação ESG no setor imobiliário no Brasil é mais que uma tendência; é uma necessidade crucial. Ao adotar as práticas exigidas, as empresas não apenas minimizam seu impacto ambiental como também promovem a equidade social e garantem uma governança corporativa sólida. Essa abordagem holística fortalece a posição das empresas no mercado em constante evolução, gera benefícios financeiros significativos e contribui para promover uma reputação sólida e duradoura.