Em um mercado disputado como o direito, a tranquilidade em uma sucessão e a importância do nome da banca e de seus profissionais é de suma importância. Para isso, especialistas têm lançado mão de uma ferramenta adotada por muitos escritórios de advocacia: a retenção de talentos.
A medida, segundo advogados, aumenta a competitividade, perpetua o nome da banca dentro de um processo sucessório e, automaticamente, gera lucratividade e produtividade a longo prazo. Exemplo de sucesso é o que ocorreu com o escritório Pinheiro Neto Advogados. Mesmo com a morte do seu fundador, José Martins Pinheiro Neto, em 2005, a banca se mantém como uma das principais do País.
Outros escritórios também estão adotando esta política e já começam a ter resultados. Um exemplo é o Penteado Mendonça Advocacia, que, apesar de ter à frente o advogado Antonio Penteado Mendonça, conta com um grupo de sócios formados dentro da própria banca, que foi fundada em 1860 e que já está na quinta geração. "Investimos na nossa equipe, capacitando nossa mão-de-obra com cursos e projetos sociais, além de procurarmos manter a fidelidade e parceria", afirma Antonio Penteado, que mantém em sua equipe profissionais há mais de 25 anos.
De acordo com o advogado, é difícil encontrar um profissional que atenda ao perfil da banca e a rotatividade no negócio não é benéfica. Por este motivo, diz ele, busca formar talentos dentro do próprio escritório e que atendam às suas expectativas.
A retenção de talentos é adotada, também, pelo Siqueira Castro Advogados que, com mais de 60 anos de história, hoje é dirigido pela sua segunda geração e, no momento, executa processos para a terceira etapa de sucessão.
De acordo com o advogado da banca Carlos Fernando Siqueira Castro, a retenção de talentos se tornou uma ferramenta indispensável no processo de sucessão, "pois o que ocorre, atualmente, nas grandes bancas, é um processo institucional e não mais familiar", explica. "Deixamos de ter a figura de um único dono e adotamos profissionais especialistas nas mais diversas áreas do direito para perpetuar a nossa marca", afirma o advogado.
Segundo ele, para manter este perfil institucional, o processo de retenção de talento é de suma importância porque o escritório se vale de profissionais talentosos nas mais variadas áreas para figurarem como sócios da banca. "Buscamos reunir figuras proeminentes e atuantes para perpetuar o nome do Siqueira Castro, independentemente de laços familiares e, esses profissionais, buscamos trazer dentro de nossa própria equipe, treinando, investindo e incentivando", diz.
Investimentos
O Siqueira Castro, por exemplo, investe em jovens talentos, incentivando conceitos como a responsabilidade social e ambiental, bem como adota um bom projeto de trainee que permite que o estagiário vivencie o dia-a-dia do advogado. Além disso, a banca conta com um programa de educação continuada que investe em cursos de especialização e pós-graduação dentro e fora do País, assim como em planos de carreira que incluem questões como incentivo salarial.
Situação similar ocorre no Veirano Advogados, que abriga um grupo de desenvolvimento profissional que inclui sócios e profissionais de Recursos Humanos (RH). "Este grupo decide como serão usadas as verbas para treinamentos solicitadas pelos próprios sócios e associados", explica a diretora de RH da banca, Kristie Vasconcelos.
Apesar de Ronaldo Veirano ainda estar a frente do negócio, a banca é dirigida com outros sócios que respondem pelas mais diversas áreas e, segundo ela, muitos são profissionais treinados e que integraram a equipe de estagiários da própria banca . "Toda nossa equipe é formada por sócios e associados que foram capacitados por nossa própria equipe. E, sendo todos donos, todos, automaticamente, são responsáveis pelo empreendimento", explica.
"O modelo adotado pelo Veirano, permite que os próprios profissionais estabeleçam sua carga horária e busquem manter e conquistar novos clientes", diz Kristie. "Além disso, o Veirano mantém bibliotecas em todas suas filiais, investe em cursos no País e no exterior e, anualmente, manda três profissionais para estudar no exterior e outros para passar um período de 12 meses em bancas no estrangeiro."
O Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados é outra banca de grande porte que também adota o programa de retenção de talentos pensando em uma futura gestão. "Nosso negócio depende de pessoas e nosso fundamento é não só investir no profissional, como mantê-lo no escritório. É esta a evolução natural na banca e torna a sucessão menos traumática porque coloca na direção uma equipe que já absorveu o perfil do nosso escritório", explica o advogado Tito Amaral de Andrade.
Assim como outros escritórios de advocacia, o Machado, Meyer, Sendacz e Opice também aposta em cursos, além de um programa de educação continuada que estuda o perfil do profissional, para que possa fornecer a ele bolsas e especializações que o tornem mais capaz, "possibilitando que a banca fique mais atrativa e competitiva neste mercado, pois pode-se contar com uma equipe de profissionais experientes e renomados".
(Gazeta Mercantil 12.01.2009/Caderno A10)