Vencimento de grande parte das concessões do setor elétrico em 2015 cria
oportunidade para reduzir as tarifas de energia e melhorar a competitividade do
País.
O desfecho de uma das maiores disputas
na área de infraestrutura, no País, deve ser desenhado nos próximos meses. Até
o dia 7 de julho, o governo federal terá de decidir o que fará com as
concessões do setor elétrico que vencem em 2015: se retoma os ativos das
concessionárias atuais e faz novas licitações, ou se renova os contratos. Essa
será a oportunidade de ouro para corrigir um dos maiores componentes do custo
Brasil: o preço da energia elétrica, um dos mais altos do mundo. O impacto da
renegociação das tarifas seria gigantesco: vencem as concessões de 112 usinas,
que geram 28% da energia do País, de nove contratos de transmissão que
administram 82% da malha e de 37 distribuidoras que atendem 40% dos
consumidores.
O preço que as indústrias nacionais
pagam pela energia, de R$ 329 por megawatt- hora (MWh), é o quarto maior do
mundo, atrás apenas dos cobrados na Itália, Turquia e República Tcheca. Isso
apesar de 80% da geração brasileira ocorrer em hidrelétricas, que têm custo de
geração baixíssimo depois de amortizar o investimento na construção das usinas.
As companhias brasileiras pagam mais que o dobro de suas concorrentes na
Rússia, China, Índia e nos Estados Unidos. De acordo com Paulo Skaf, presidente
da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a produção nacional
sofre com essa disparidade de preços em relação aos praticados no Exterior. “A
energia cara constrange a competitividade dos produtos brasileiros e diminui o
nível de empregos e renda”, diz Skaf.
Produtoras de alumínio, como a
multinacional Alcoa, por exemplo, avaliam fechar fábricas no País por conta dos
custos. “Cadeias importantes como as do aço, produtos químicos e vidro são
impactadas”, afirma o presidente da Associação dos Grandes Consumidores de
Energia (Abrace), Paulo Pedrosa. “Isso eleva os preços finais de produtos como
automóveis e até imóveis.” É verdade que a carga tributária onera em muito as
tarifas. Impostos e encargos federais ou estaduais, como o ICMS, representam
mais de 48% do custo final. O governo federal aceita reduzir a carga,
mas prevê uma batalha com os Estados pelo ICMS. Em todo caso, mexer na
remuneração das empresas será fundamental para reduzir custos.
A Fiesp, favorável a que todas as
concessões sejam relicitadas, entrou com uma representação no Tribunal de
Contas da União (TCU). Conseguiu que o tribunal pedisse informações sobre as
medidas já tomadas para organizar os leilões. Pelos cálculos de Skaf, a
retomada dos ativos reduziria a tarifa média em 20% e resultaria numa economia
de gigantescos R$ 920 bilhões, em 30 anos. Skaf é contra uma renovação com
renegociação de preços pelo Ministério de Minas e Energia. “Leilões pelo
critério da menor tarifa são a forma mais transparente de garantir um preço
justo”, afirma Skaf. Entretanto, aos poucos, fica claro que o governo deve
optar pela renovação dos contratos. Inclusive porque estatais controladas pela
Eletrobras, como Chesf, Furnas e Eletronorte, estão entre as mais afetadas pelo
vencimento de concessões.
Também teme-se por problemas
operacionais numa retomada tão grande de ativos. Qualquer que seja a rota
escolhida, a discussão com as empresas não será fácil. Muitas delas argumentam
que, apesar de já terem amortizado seus investimentos nas usinas, carregam
custos trabalhistas e de dívidas que precisam ser pagos. Outras lembram que
reduzir tarifas agora desestimularia investimentos futuros na expansão da
geração. A paulista Cesp, por exemplo, está em compasso de espera, sem definir
seu plano de investimentos e sem conseguir renegociar parte de suas dívidas de
R$ 4,1 bilhões. A concessão das usinas de Jupiá e Ilha Solteira, responsáveis
por 67% da receita da companhia, vencerá em 2015. Ambas estão contabilizadas no
balanço por R$ 4,8 bilhões.
O presidente da Cesp, Mauro Arce, diz
que a discussão sobre as tarifas não é tão simples, e lembra alguns pontos
esquecidos. “O que será feito com os subsídios para a população de baixa renda,
que elevam a tarifa final? ”, indaga. Definir a forma de cálculo de tarifas
entre usinas em diferentes estágios de amortização será um desafio, acredita Ricardo
de Lima Assaf, sócio do escritório de advocacia Machado Meyer e
especialista em infraestrutura. Outro problema, de acordo com ele, será reduzir
as possibilidades de eventuais contestações jurídicas. “A melhor forma seria
decretar a renovação por medida provisória e deixar a regulamentação a cargo do
Ministério de Minas e Energia.”
(Isto É Dinheiro - www.istoedinheiro.com.br
25.05.2012)
(Notícia na Íntegra)