Apenas seis quilômetros separam as
fábricas de biscoitos da Nestlé e da Marilan na cidade de Marília, a 450
quilômetros da capital paulista. E elas poderiam até pertencer ao mesmo grupo.
O presidente da Nestlé no Brasil, Ivan Zurita, avalia essa hipótese: "A
Marilan é uma empresa interessante", disse o executivo ao Valor,
observando que a multinacional está avaliando oportunidades de aquisição. No
caso da Marilan, Zurita diz que "depende dos múltiplos, das condições da
fábrica e se é compatível com o que queremos", afirmou.
O presidente da Marilan, José Rubis
Garla, garante, no entanto, que a empresa não está mais à venda. "Todo o
processo gerou muito desgaste na família e essa possibilidade [de venda] está
descartada por tempo indeterminado", afirmou ao Valor.
A Nestlé chegou a sondar a Marilan no
ano passado, mas preferiu não participar do processo de "due
diligence" da empresa, do qual tomaram parte PepsiCo, M. Dias Branco,
Bunge e Campbell. O processo, que teve início na segunda metade de 2011, foi
conduzido pelo banco BTG, com o escritório Machado Meyer Sendacz Opice,
conforme antecipou o Valor.
A Marilan teria pedido no mínimo R$
600 milhões pelos seus ativos, mas nenhum dos candidatos atingiu o montante.
Quem chegou mais perto foi a PepsiCo, que fez duas ofertas - a segunda ficou
entre R$ 500 milhões e R$ 550 milhões.
Tanto para a Nestlé quanto para a
PepsiCo, a compra da Marilan é estratégica. Com a aquisição, a PepsiCo, que
levou a Mabel no ano passado e tem cerca de 6% de "market share",
passaria da sétima para a segunda posição no ranking nacional do mercado de
biscoitos, que movimenta R$ 7 bilhões ao ano. Hoje, a vice-liderança está com a
Nestlé, dona de 9% de participação. A Marilan tem uma fatia de 6,5%. Com a
empresa, a Nestlé não só ficaria mais perto da líder M. Dias Branco, que detém
24% do mercado, como também blindaria o avanço dos concorrentes.
"O segundo lugar é o primeiro
perdedor", diz Zurita, acrescentando que "isso não vale só para
biscoitos, mas também para outros segmentos", e que "às vezes você
faz aquisições" para garantir o ′market share′. O presidente da Nestlé
reconhece que o mercado de biscoitos - ainda muito pulverizado, reunindo cerca
de 600 fabricantes - tem marcas fortes regionais, como a Piraquê no Rio, e a
Bauducco, que é mais forte nas regiões Sul e Sudeste.
Em entrevista ao Valor, José Rubis
Garla afirma que a família está tocando o "plano B" para a Marilan
com bastante sucesso. Os Garla renegociaram com os bancos o alongamento da
dívida, em torno de R$ 85 milhões, e vão levantar capital de giro de R$ 50
milhões para colocar em prática os orçamentos de 2012 e 2013. "Não vamos
vender mais", diz Garla. "Não é só pelo fato de nenhum dos
pretendentes ter chegado ao valor que nós queríamos, mas por questões
particulares. Houve um desgaste emocional na família".
Fundada há 55 anos por Maximiliano
Garla, a Marilan faturou R$ 380 milhões em 2011. O controle da empresa foi
dividido igualmente entre os três filhos de Maximiliano: José Rubis, José
Geraldo e José Carlos. Fátima, ex-mulher de José Geraldo, ficou com 10% da
companhia.
Este ano, a Nestlé pretende investir
entre R$ 800 milhões e R$ 1 bilhão na operação brasileira, valor em linha com o
que foi aplicado em 2011. Apenas na expansão da produção, o montante será de R$
500 milhões. No ano passado, a filial brasileira faturou R$ 20 bilhões. Apesar
de Zurita dizer que o consumo no país não está desacelerando, a expectativa da
Nestlé é crescer 7% em vendas este ano no país, enquanto que a expansão de 2011
foi 17%.
Ontem, a empresa anunciou o
lançamento do Nescafé Duogrão, com sabor e cheiro mais fortes que o Nescafé
tradicional. A fabricante investiu R$ 50 milhões no desenvolvimento e campanha
de marketing do produto.
(Valor Econômico 04.04.2012/Caderno B4)
(Notícia na Íntegra)
