Há cerca de quatro anos, o paulistano Renan Conde se mudou para Portugal "na cara e na coragem", como ele mesmo define. Chegando lá, conseguiu trabalho na área comercial de uma empresa. Um detalhe: a sede da companhia ficava na França.

Renan se adaptou facilmente ao home office. Tanto que esse passou a ser um de seus critérios mais importantes na busca por novas oportunidades profissionais. Hoje, aos 32 anos, ele está no setor de vendas de uma empresa na Espanha. E, desde o ano passado, está trabalhando do Brasil, depois que uma visita à família se estendeu mais do que o planejado, devido à pandemia.

A trajetória de Renan ilustra uma tendência em ascensão nos últimos anos, mas que, em 2020, ganhou evidência --quando empresas e profissionais de todo o mundo, por causa do isolamento social imposto pelo novo coronavírus, tiveram de aderir ao home office. Com a possibilidade de trabalhar de qualquer lugar, trabalhar para uma empresa de fora do Brasil ficou mais fácil. "No trabalho remoto, você convive com pessoas do mundo todo", conta o paulistano, formado em administração. "Cada reunião é uma aula de diversidade, com opiniões e culturas diferentes."

Antes de se empolgar com os salários em dólar ou euro, quem tem o desejo de trabalhar fora precisa levar alguns fatores em consideração.

Em geral, as oportunidades de trabalho em empresas estrangeiras são por meio da prestação de serviços. Nessas situações, os profissionais não têm vínculo empregatício e não estão respaldados pelas leis trabalhistas do Brasil. E, assim como acontece quando atendem empresas aqui, devem recolher os impostos de acordo com a atividade exercida.

Companhias que não estão estabelecidas no país, lembra a advogada Caroline Marchi, do escritório Machado Meyer Advogados, não podem contratar funcionários pelo regime CLT. Em alguns casos, porém, as empresas contam com o intermédio de terceiras. "Nessa situação, vale avaliar qual seria o enquadramento do sindicato e as suas convenções", diz ela.

Com a ampliação das fronteiras do mercado de trabalho, ganha destaque um tipo empresa até pouco tempo atrás bastante incomum --consultorias especializadas em fazer a ponte entre funcionários remotos e companhias estrangeiras. É o caso da startup americana Deel. Seu portifólio conta com cerca de 2 mil empresas e 15 mil funcionários contratados a partir da plataforma, ao redor do mundo. Segundo Cristiano Soares, country manager da filial brasileira, a contratação de profissionais pela CLT tem crescido. Aqui, os acordos firmados nesse modelo já somam cerca de 25% das representações. Globalmente, 70% dos contratos são de prestação de serviço.

Se os brasileiros sonham em morar e trabalhar fora, muitas organizações estrangeiras sonham com os brasileiros. A qualidade do trabalho e a desvalorização da moeda são alguns fatores que levam a esse interesse, explica Cristiano. "A média salarial de um desenvolvedor sênior, no exterior, é de cerca US$ 5 mil. O que, no Brasil, é bastante dinheiro", diz o executivo.

Na busca por ortunidades lá fora, o domínio do inglês, claro, é um requisito básico. O idioma não abre portas apenas nos países anglófonos, mas em todo o mundo. "Falar bem inglês foi muito mais importante do que o meu diploma", brinca Renan.

Em alta, as carreiras de tecnologia têm servido de chamariz para postos de trabalho em empresas estrangeiras. Mas não são as únicas. Entre os clientes da Deel, por exemplo, vagas na área de design, atendimento ao cliente e vendas também têm se destacado.

O Linkedin é um dos principais canais na busca por oportunidades de trabalho fora do país. É possível filtrar vagas fazendo o cruzamento do regime desejado –no caso, o remoto – com a localidade da empresa, por exemplo. Outra opção é verificar as ofertas oferecidas nos sites das empresas almejadas.

Alguns países têm programas que buscam facilitar o ingresso de profissionais estrangeiros. É o caso da Estônia, com o chamado e-Residency. Cidadãos estrangeiros podem trabalhar e empreender remotamente. Outros, como a Alemanha, oferecem vistos para quem trabalha remotamente e deseja passar um período no país.

Na hora de pesquisar pelas vagas, fique atento à autenticidade das páginas e informações anunciadas. A oferta de falsos empregos no exterior é uma das formas usadas por criminosos para aplicar golpes.

(Época Negócios - 27/5/2021)