Por
Daniele Madureira | De São Paulo
A
família Garla, dona da Marilan, fabricante de biscoitos de Marília (SP), não
está disposta a ceder à pressão das multinacionais PepsiCo e Bunge para abaixar
o preço da companhia. A família espera arrecadar no mínimo R$ 600 milhões pela
empresa que, ao lado da Bauducco, é a quarta maior fabricante de biscoitos do
país, depois de M. Dias Branco, Nestlé e Kraft. Segundo apurou o Valor, se não
conseguir algo entre R$ 600 milhões e R$ 800 milhões, os Garla preferem
continuar no negócio. Para isso, vão renegociar as dívidas e terão que levantar
capital de giro para continuar tocando os projetos da empresa em 2012 e 2013.
Em
novembro, a M. Dias Branco fez sua oferta, de R$ 495 milhões, prontamente
descartada pelos Garla. Além dela, participaram de processos de auditoria na
Marilan no fim de 2011 a Campbell, a PepsiCo e a Bunge. Apenas a PepsiCo tinha
renovado o interesse em ficar com a companhia, solicitando mais dados contábeis
para enviar à matriz nos Estados Unidos.
Mas em
janeiro a Bunge voltou ao processo e pediu novas informações à Marilan, apurou
o Valor. Ambas as candidatas, porém, já indicaram que estão dispostas a pagar
menos do que a família deseja. As propostas oficiais ainda são aguardadas. Na
semana passada, José Rubis Garla, presidente da Marilan, esteve em São Paulo
reunido com o banco BTG e o escritório de advocacia Machado Meyer Sendacz
Opice, que assessoram a empresa na operação de venda.
Para
tornar viável a sua permanência no negócio, os Garla negociam com bancos o
alongamento da dívida da Marilan, que está entre R$ 80 milhões e R$ 90 milhões.
Além disso, tentam levantar capital de giro de R$ 50 milhões para colocar em
prática os planos orçamentários de 2012 e 2013.
José
Rubis Garla está acumulando a diretoria comercial, antes ocupada por Fábio
Sesti, que foi desligado da empresa em janeiro. Com 2,2 mil funcionários, a
Marilan vem operando em três turnos e, segundo apurou o Valor, teve uma geração
de caixa de R$ 1 milhão em janeiro.
A
negociação da venda da Marilan ocorre em um momento delicado para o setor.
Segundo dados divulgados ontem pela Associação Nacional das Indústrias de
Biscoitos (Anib), a categoria encerrou 2011 perto da estagnação. O crescimento
de 6% nas vendas do varejo, para R$ 6,8 bilhões, mal compensou a inflação do
ano, que foi de 6,5%, de acordo com o IPCA. No ano, o volume vendido recuou 2%,
para 1,22 milhão de toneladas.
"Em
2011, conseguimos pelo menos repassar o aumento do custo dos insumos", diz
Alexandre Colombo, presidente da Anib. O executivo, que assumiu em dezembro o
comando da entidade para um mandato de três anos, afirma que ingredientes como
gordura e farinha subiram entre 15% e 20%. "Antes de 2011, a indústria nem
tinha condições de repassar isso", diz.
No ano
passado, as exportações de biscoitos cresceram 10% e as importações, 30%.
"A concorrência com produtos de fora é positiva para a indústria porque
força os fabricantes a pensar em inovações", diz Colombo. Este ano, a
expectativa é que as vendas cresçam 3% em volume e 6% em valor.
No
mercado de biscoitos a demanda tem sido puxada por produtos mais elaborados,
como os recheados, com cobertura ou aqueles de apelo saudável. Para atender o
gosto e o bolso do público, a indústria investe em porções individuais.
"Assim você equilibra o desembolso do consumidor, que compra um produto de
maior valor agregado, mas em porção menor", diz Luiz Eugênio Lopes Pontes,
diretor comercial da M. Dias Branco e vice-presidente da Anib para as regiões
Norte e Nordeste.
No
momento, a tendência predominante no mercado de biscoitos é a consolidação - o
setor é formado por cerca de 600 fabricantes. Em novembro, a Mabel, líder no
Centro-Oeste, foi comprada pela PepsiCo. Em dezembro, foi a vez da M. Dias
Branco adquirir a cearense Pelágio. E as atenções para futuras aquisições
voltam-se para o Sudeste do país, que responde pelo maior consumo de biscoitos
do país.
Nesse
sentido, empresas fortes e regionais como a Piraquê, líder no mercado
fluminense, são alvo. Colombo, diretor comercial da empresa e herdeiro da
Piraquê, é taxativo, quando perguntado sobre possíveis negociações: "Não
vamos vender". Em dezembro faleceu o fundador Celso Colombo, avô de
Alexandre. Desde então, a presidência está sendo compartilhada por três dos
quatro filhos de Celso.
(Valor Econômico
09.02.2012/Caderno B7)
(Notícia na Íntegra)