Por: Tito Amaral de Andrade 

Ressignificar. De acordo com o dicionário, quer dizer 'dar novo sentido a algo ou alguém já existente'. Ainda que essa definição nos pareça óbvia, seu significado vai muito além do que está escrito nesse compilador de palavras e conceitos.

A ressignificação é o melhor caminho para os momentos em que nada parece evoluir. Muitas vezes nos vemos em uma via sem saída, lidando cada vez mais com os dualismos da vida, e em tempos de pandemia mundial não seria diferente. Aliás, é muito mais complexo. A covid-19 mudou as nossas vidas, e não apenas o nosso cotidiano.

Para a futurista Amy Webb, em entrevista para o site internacional Newsday, 'a vida depois do vírus será diferente'. E quem discorda? Reinventamos - ou ressignificamos - nossa forma de consumir, trabalhar, liderar, conviver e nos relacionar. Ainda que seja uma tarefa difícil fazer previsões definitivas e categóricas, parece inquestionável que algumas mudanças ocorrerão e precisamos estar atentos e preparados.

Alguns tipos de trabalho, parte da educação formal e mesmo a saúde, estão cada vez mais remotos e neste novo cenário, precisamos apurar o olhar para novos caminhos, alternativas e ideias frente à atual realidade. No âmbito empresarial, por exemplo, é de extrema importância entender a posição das organizações nesse novo contexto e, se necessário, ressignificar a sua atuação diante de tantos desafios, gerando reflexões sobre o protagonismo da iniciativa privada, distribuição de renda, voluntariado, filantropia e geração de valor.

Em meio à crise socioeconômica e na saúde, percebemos a importância organizacional do estado e da mobilização em prol do desenvolvimento, da solidariedade, da igualdade e do bem comum. Ou seja, cada vez mais, precisamos de incentivos e ações que reduzam a desigualdade social.

Muito se fala sobre o presente, mas é importante olhar para o futuro, que nos foi antecipado em um estalar de dedos, e ter uma perspectiva do que pode ser diferente e nos adequar a isso, traçando objetivos de curto, médio e longo prazo, estabelecendo uma meta para concretizá-los. Ressignificar tudo isso em forma de aprendizado e novas oportunidades é o que de fato vai nos fazer entender esse novo momento.

Acredito que no pós-pandemia, os líderes precisarão estar cada vez mais antenados ao surgimento de novas tecnologias e tendências de mercado. Descobrir hoje o que vai mudar o amanhã será o diferencial de pequenas, médias e grandes instituições. Com o tempo, entenderemos melhor quais setores vão mudar seu core business para manter a relevância diante de um cenário que ainda está por vir.

É notório que a consciência individual é fundamental, porém, as mudanças precisam ser coletivas, seja por ações privadas ou públicas. A nossa consciência social exige que pensemos além de nós mesmos, buscando sempre também o interesse da coletividade. Não sabemos ao certo o que o futuro nos reserva, mas definitivamente daremos um novo significado para a nossa vida. Um ressignificado.


*Tito Amaral de Andrade é sócio-administrador do Machado Meyer Advogados e especialista em direito do consumidor, processos de concentração e investigações anticoncorrenciais. Graduado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro em 1995 e Mestre em Direito London School of Economics, em Londres. Foi Presidente do Instituto Brasileiro de Estudos da Concorrência, Consumo e Comércio Internacional (IBRAC) em 2013 e é membro do conselho da Competition Law International, revista da área de Antitruste e Comércio Internacional da IBA.

(O Estado de S. Paulo online - 01.07.2020)