Roberto
Dumke | São Paulo
Além do
esforço de gestão dentro do próprio Conselho Administrativo de Defesa Econômica
(Cade), uma mudança de postura de advogados e empresas tem contribuído para
decisões mais rápidas.
Com a
nova legislação de defesa à concorrência (Lei 12.529/2011), vigente desde maio
de 2012, as empresas passaram a precisar de aprovação prévia do Cade para
fechar as fusões e aquisições.
"Hoje,
a empresa tem total interesse em esclarecer tudo com rapidez. No passado, era o
contrário", afirma o sócio da Advocacia José Del Chiaro, Ademir Pereira
Junior. Para que o negócio seja aprovado o quanto antes, uma estratégia seria
prestar informações abundantes e de qualidade.
A pressa
das empresas também acaba aumentando as chances de desfecho dos casos por meio
de acordo. Foi o que ocorreu na sessão de ontem. Após firmar três Acordos em
Controle de Concentrações (ACC), o Cade aprovou a compra da operadora de
televisão por assinatura, telefonia fixa e banda larga GVT pela espanhola
Telefónica, controladora da Vivo, numa transação de 7,2 bilhões de euros.
O
conselheiro Márcio de Oliveira Júnior, relator do caso, disse que a aprovação
foi rápida graças à boa instrução do processo, pela superintendência-geral do
Cade, além da "cooperação dos advogados".
Entre os
que atuaram pelas empresas de telefonia, estava o ex-conselheiro do Cade, Marcos
Paulo Veríssimo. Ele destacou que o Cade "tem demonstrado agilidade
não só nos casos simples, mas também nos que demandam intervenções e vem ao tribunal".
Considerando
que o pedido de aprovação do negócio foi protocolado no dia 17 de novembro do
ano passado, a decisão saiu em 128 dias - pouco mais que metade do prazo
previsto em lei, de 240 dias, prorrogáveis por mais 90.
Outro
caso bilionário aprovado em prazo similar foi a parceria entre as farmacêuticas
Novartis e a GlaxoSmithKline (GSK). A transação foi autorizada pelo Cade mês
passado.
Pilares
O
advogado Pereira Junior destaca que além da maior disposição para firmar
acordos entre as partes envolvidas no processo, a rapidez do Cade é resultado
de dois outros fatores.
O
primeiro envolve a estrutura do órgão antitruste. Além de ter ganhado
independência para fazer a instrução dos processos, o que não ocorria antes da
nova lei, o advogado diz que há um forte esforço para aprimorar a gestão do
Cade. "Sem dúvida nenhuma isso ocorre. Essa preocupação em melhorar a
organização é pública e notória", acrescenta Pereira.
O
segundo envolve a maior experiência do órgão, principalmente porque a defesa à
concorrência é relativamente recente no País. "Telefonia e farmacêutico,
por exemplo, são setores que batem carteirinha no Cade. Isso resulta em
perguntas mais diretas e decisões aceleradas", destaca.
DCI - Diário Comércio
Indústria & Serviços - 26.03.2015, p. 12