A Lazard Asset Management contou com
um grande aliado para aprovar na assembleia de acionistas da Redecard, na
sexta-feira, o seu pleito por um novo laudo sobre o valor da empresa: a ainda
tradicional baixa participação de investidores nesses eventos no Brasil. O
fundo quer uma nova avaliação para a companhia, da qual possui 10%, visando um
aumento do valor da oferta de fechamento de capital lançada pelo controlador,
Itaú Unibanco, a R$ 35 por ação.
Mesmo com o esforço e a organização
de investidores nacionais que não queriam o novo estudo, estiveram na
assembleia detentores de 53% do capital em circulação da Redecard. Com isso,
sozinha, a Lazard já tinha o equivalente a 37% dos votos. E além da reduzida
presença dos acionistas - apesar de significativamente maior do que a média das
assembleias locais - o fundo estrangeiro teve o apoio de diversos outros
acionistas internacionais. Inclusive nomes de peso como Fidelity, Morgan
Stanley, Norges Bank, além de fundos de pensão de companhias como Microsoft,
Hewlett-Packard (HP), Kodak, entre outros.
Com esse suporte, a solicitação de um
novo laudo foi aprovada por 57,1% dos presentes. Na prática, significa que mais
11% do capital da Redecard, além da Lazard, ou 20% da fatia em circulação,
concordaram com a contratação de um novo estudo. Esse novo laudo deve ficar
pronto em no máximo 30 dias, a contar de sexta-feira, e será feito pelo Credit
Suisse. O custo será de R$ 500 mil.
Apesar de seu voto ter sido
apresentado por meio de procuração, a Lazard compareceu. O gestor do fundo Erik
B. McKee não apenas participou do encontro como apresentou brevemente aos
demais 60 participantes seus motivos para querer um novo estudo - o
conservadorismo das projeções consideradas no primeiro laudo, o que teria
diminuído o valor do negócio - e pediu votos.
A assembleia, conduzida pelo
presidente do conselho de administração da Redecard, Marcio Schettini, levou
cerca de duas horas, entre a abertura dos trabalhos e a assinatura da ata.
Nesse período, McKee sofreu do isolamento de ser o único presente a favor do
laudo. Sua única companhia na maior parte do tempo foram os dois advogados do
escritório Machado, Meyer, Sendacz e Opice. Enquanto isso, gestores
domésticos conversavam descontraidamente sobre a operação, deixando claro o
alinhamento de ideias, algo que o Lazard não procurou obter previamente. Pelo
menos, não à moda brasileira.
O grupo de investidores domésticos
também contou com a presença de gestores que quiseram acompanhar o evento de
perto, a despeito de poderem usar procurações. Estiveram lá profissionais
tradicionalmente mais ativistas, como Hedging-Griffo, Ibiúna, JGP, Mauá Sekular
e Skopos.
Boa parte deles aproveitou a recente
oportunidade de comprar os papéis na bolsa entre R$ 32 e R$ 33, com a
perspectiva de um lucro entre 6% e 10% num curto espaço de tempo. O poder de
voto desse grupo ainda foi reforçado pelo elevado volume de aluguel da ação,
equivalente a 10% do total em circulação. Mas nem esse exército a favor da
proposta de fechamento de capital do Itaú pôde evitar a aprovação da proposta
da Lazard.
Os investidores nacionais, que
entraram há pouco no papel, recusavam uma nova avaliação por duas principais
razões. A primeira é o risco de o Itaú desistir da oferta, caso o novo valor
encontrado para a ação da Redecard fique acima de R$ 35. O segundo é que, ainda
que o banco não desista, o pagamento da oferta não será atualizado pela Selic.
Na lógica de mercado, a demora só faz com que o lucro atual da transação
diminua.
O temor de que a oferta termine
suspensa é o que explicou a forte queda do valor das ações na sexta-feira, de
6,39%, para R$ 30,05. A base acionária da Redecard hoje tem forte presença de
investidores que, mais do que acreditar no negócio, buscam os R$ 35 do Itaú. O
movimento com os papéis foi intenso na sexta-feira, somando R$ 697,7 milhões, o
segundo maior giro do pregão paulista, com 8,2% do volume total do dia.
Também preocupa a perspectiva de que
aqueles que votaram por um novo laudo se recusem a vender na oferta de
fechamento de capital, que precisa de adesão de 67%. Muitos investidores
recentes do papel não querem pagar para ver, em especial, após as
comprometedoras promessas que o Itaú fez para a Redecard caso não consiga
fechar seu capital. O banco disse que, além de modificar as vantajosas taxas
comerciais cobradas atualmente, vai buscar um comprador para a empresa, uma vez
que pretende fazer internamente seu próprio negócio de cartões.
O Valor participou da assembleia com
uma ação da Redecard, adquirida em 19 de abril, a R$ 32,94. A repórter se
absteve nas votações.
(Valor Econômico 21.05.2012/Caderno C11)
(Notícia na Íntegra)