Alexa
Salomão Uma
simples regrinha pode comprometer a nova rodada de concessões de rodovias que o
ministro Nelson Barbosa, do Planejamento, tem a missão de transformar em um
sucesso. A regra fixa qual deve ser o lucro máximo (conhecido como taxa de
retorno) para investimentos adicionais feitos nas estradas - obras extras, que
costumam não serem poucas. Segundo
fontes ouvidas pelo Estado, as taxas são consideradas muita baixas para a atual
realidade econômica do País e do setor de infraestrutura. Podem afugentar os
investidores da nova dos leilões, que segundo levantamento preliminar incluiria
2,5 mil km de estradas. De
acordo com o regra, que foi estabelecida na Resolução 4.075, da Agência
Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), são válidas três taxas de retorno,
para diferentes períodos da concessão: 6,51% para os primeiros anos, 7, 17%, no
período intermediário, e 8,01% nos anos finais (veja quadro). O
consultor Raul Velloso lembra que a ideia de fixar taxas de retorno para
investimentos em estradas, portos e aeroportos criou um grande problema no
primeiro mandato do governo de Dilma Rousseff. Em 2012, quando se teimou em
exigir que a taxa fosse inferior a 7%, os leilões foram adiados sob risco de
não receberem nenhuma proposta. "Por fim, o governo deixou de fixar a taxa
para o leilão, mas insistiu em intervir de outro jeito", diz. "Como
espera atrair investidores assim?" A norma
nunca foi bem recebida, mas a preocupação com ela aumentou à medida que as
condições econômicas pioraram. Segundo Arthur Piotto Filho, diretor financeiro
da CCR, que tem concessões de estradas e aeroportos, a defasagem dos valores
preocupa. "As taxas foram fixadas quando as condições de crédito eram
outras", diz. Piotto explica que, até o ano passado, o setor contava com
aportes a juros vantajosos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico
Social (BNDES). Com o ajuste fiscal, o banco se retrai. É nítido para as
empresas que será preciso buscar novos instrumentos financeiros, que vão custar
bem mais caro. Para
complicar, a Operação Lava Jato fez com que os bancos privados se tornassem mais
cautelosos. Financiamentos são represados e os que saem estão mais caros. Há
empresa sob investigação - de um grupo com 27, que inclui as maiores
construtoras do País - que chegou pagar juros de quase 20%. Engessada.
Advogados especializados em infraestrutura, ouvidos pelo Estado, garantem que a
norma da ANTT pode se tornar uma pedra no meio do caminho das novas concessões.
"A lei não só engessou o retorno, como a engessou em valores muito baixos
e pode não ser atraente", diz Luiz Felipe Valerim, advogado especializado
em infraestrutura do VPBG Advogados. Basta uma simples comparação com a Selic,
a taxa básica da economia, para perceber: hoje ela está em 12,65%. Segundo
o advogado especializado em concessões, Mauro Penteado, do escritório Machado,
Meyer, a questão também se tornou sensível para quem já está no negócio,
porque seu resultado pode ser afetado. Não seria complicado para a agência
rever a norma, diz ele. "As taxas foram fixadas em 2013 e valem até 2018:
uma alternativa é antecipar a revisão." Segundo
levantamento realizado pela consultoria Inter. B, especializada em
infraestrutura, pelo menos quatro grandes grupos de rodovias tem potencial para
serem oferecidas aos investidores, todas rotas do agronegócio. "São
trechos interessantes, mas se o investidor não garantir retorno adequado de
nada adianta", diz Cláudio Frischtak, diretor da Inter.B. Do
Paraná ao Rio Grande do Sul, está em estudo a concessão de quase 500 km de
interligação das BRs 476, 153, 282 e 480. No Centro Oeste, os estudos avaliam a
concessão de 704 km das BRs 364 e 060, do Mato Grosso a Goiás. Mais ao Norte,
também se avalia a concessão de quase 1 mil km para interligar a BR-163, no
Mato Grosso, a BR-230, no Pará, que faz parte da Transamazônica. Também está em
análise o potencial de 439 km da BR-364 de Goiás a Minas Gerais. Procurados
pela reportagem para comentar a preocupação mercado, a ANTT e o Ministério do
Planejamento não quiseram se manifestar neste momento.
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