Por Paula Dume
Expectativa quanto à retomada da economia e da queda de juros ainda pauta a quantidade das ofertasSegundo a Anbima, só no 1° semestre de 2017, o volume de ações superou o montante de 2016
O mercado de capitais brasileiro tem apresentado um crescimento significativo no número de Ofertas Iniciais de Ações (IPOs, na sigla em inglês) neste ano, comparado aos três últimos, que contabilizaram uma oferta por ano. Segundo o relatório da Transactional Track Record (TTR), sete IPOs foram registrados até julho.
No entanto, alguns especialistas alertam que esse aumento não sinaliza um novo boom como o que ocorreu em 2007, quando 64 ofertas foram contabilizadas e R$ 55,6 bilhões movimentados. O mercado continua seletivo e cauteloso, em meio à expectativa de retomada da economia e da queda gradual dos juros.
Gustavo Rugani, sócio da área de Mercado de Capitais do Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados, conta que conduziu ofertas que foram canceladas no primeiro semestre deste ano, mas percebe que há uma retomada do crescimento, com a queda da inflação e dos juros. “Algumas reformas já passaram, outras estão em pauta, e isso contribui para ter um cenário de estabilidade e previsibilidade que ajuda os investidores a tomar as decisões”.
O advogado acredita que o cenário de investimentos poderia ser melhor, não fosse a crise que atrapalha as ofertas. Entretanto, os indicadores econômicos aliados a esses fatores internacionais já dão um conforto necessário para os investidores voltarem a apostar nas operações. “Além, é claro, do próprio sucesso das transações anteriores. Isso vai criando no mercado um sentimento de que está havendo uma retomada e estimula novas ofertas”.
A longo prazo
Dados divulgados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) apontam que, só no 1° semestre de 2017, o volume de ações foi de R$ 13,133 bilhões, o que supera o montante do ano passado inteiro.
É esperado um equilíbrio no número de IPOs para os próximos anos. A sócia da área de Mercado de Capitais do Mattos Filho, Veiga Filho, Marrey Jr. e Quiroga Advogados, Vanessa Fiusa, acha difícil que uma reforma econômica ou outra situação particular tenha mudado a perspectiva dos investidores, mas defende uma conjunção de fatores.
“Vimos uma reviravolta grande em 2016, devido a momentos mais instáveis. Mas, temos agora um apetite muito bom do mercado e dos investidores estrangeiros que estão de volta. Essa porta de entrada de recursos para o país é sempre boa”, explica a advogada.
Ela inclui na lista deste ano mais dois IPOs já protocolados na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) — Camil, no setor de grãos, e Tivit, no de tecnologia. Vanessa comenta que há muitas ofertas nos segmentos de infraestrutura e de energia e adianta que existem outras que ainda não foram concretizadas, mas estão em andamento e vão entrar na CVM na próxima janela.
Nos IPOs realizados neste ano — Movida Aluguel de Carros, Hermes Pardini, Grupo Carrefour, Azul – Linhas Aéreas Brasileiras, Ômega Geração, IRB Brasil Resseguros e Biotoscana —, não houve concentração de ofertas em um setor.
Fazer ou não fazer um IPO?
A decisão deve ser tomada com cautela. De acordo com Alexei Bonamin, sócio da área de Mercado de Capitais do TozziniFreire Advogados, as empresas precisam fazer uma lição de casa anterior à oferta e se preocupar com questões de governança, de política interna e de compliance para ficarem mais atrativas para os investidores. “Não adianta também se preparar e não ter uma boa tese de negócios. Tudo acaba contando como decisão de investimento”, pontua.
Vanessa Fiusa, do Mattos Filho, compara o processo de IPO ao de ter um filho. “É a melhor coisa que a empresa vai fazer na vida, desde que seja na hora certa, porque senão pode se tornar um pesadelo”. Como no Brasil, só ofertas de, pelo menos, R$ 500 milhões conseguem ser viabilizadas na Bolsa, o mercado de IPO acaba se tornando aberto somente para companhias que já passaram por todos os ciclos de desenvolvimento e de amadurecimento.
“O importante é a oferta ser grande para assegurar um grau de liquidez que dê conforto para o investidor entrar. Ele quer ter a oportunidade de vender quando quiser na Bolsa e isso só vai acontecer se tiver um volume de papel relevante em circulação”, esclarece Gustavo Rugani, do Machado Meyer. Por outro lado, algumas empresas menores tentam obter o registro de companhia aberta na Bolsa e até conseguem, porém não evoluem nas negociações por não realizarem ofertas concomitantes.
Lexis 360
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