Iniciativa
prevê tipificação do crime de caixa 2 e ficha limpa para servidores públicos
dos três poderes. Dilma destacou necessidade de criar cultura "fundamentada em
valores éticos"
Como
objetivo de dar uma resposta às manifestações que levaram mais de um milhão de
brasileiros às ruas no último domingo, o governo lançou, ontem, seu pacote
anticorrupção, tipificando o caixa 2 como crime e enriquecimento ilícito. Além
disso, prevê a elaboração de um projeto de lei de ficha limpa para todos os
servidores públicos dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. Promessa
de campanha de Dilma, o pacote foi entregue, na terça-feira, ao presidente do
Congresso, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Pela
proposta, quem for condenado pelo crime de caixa 2 poderá ficar preso por três
a seis anos. Segundo o governo, a tipificação do crime consiste na tentativa de
fraudar a fiscalização eleitoral, com a inserção de elementos falsos ou omissão
de informações para ocultar a origem, o destino ou a aplicação de bens, valores
ou serviços da prestação de contas de partido político ou de campanha
eleitoral.
A
punição não ficaria restrita à >
Outra
medida que afeta os corruptores é a regulamentação da Lei Anticorrupção, de nº
12.846/2013, que pune empresas envolvidas em práticas relacionadas à corrupção,
com aplicação de multas de até 20% do faturamento.
No
lançamento do pacote, a presidenta Dilma Rousseff destacou a ampliação da
capacidade de prevenir e coibir a corrupção por parte do Estado. Mas voltou a
ressaltar o caráter cultural do problema, como no lançamento do novo Código de
Processo Civil. "Temos de ter clareza que, além desse conjunto de novas leis
para resolver esse problema, é preciso uma nova consciência, uma cultura
fundamentada em valores éticos profundos e moralidade republicana que deve
nascer dentro de cada lar, escola e cada cidadão deste país e da alma e do
coração de cada cidadão", disse Dilma.
Também
presente ao lançamento, o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo afirmou que
o governo está aberto para receber sugestões de toda a sociedade, "Vossa
Excelência (Dilma) sabe que governa para 200 milhões de brasileiros e, por
isso, todos que têm contribuições a dar para o combate à corrupção e para o
combate à impunidade devem ser chamados ao diálogo na defesa daquilo que a
população hoje quer", afirmou Cardozo.
Ao
analisar o pacote lançado pelo governo, o presidente da Associação Juízes para
a Democracia (AJD), André Augusto Bezerra, disse que a iniciativa pode ajudar
no combate à corrupção, mas não resolve o problema. Para Bezerra, é necessário
haver controle e transparência."Na democracia, da forma prevista pela
Constituição brasileira, esse controle é o controle social com participação da
sociedade civil,desde a nomeação de alguns agentes públicos e políticos, como a
escolha do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), que são nomeados hoje
sem qualquer participação da sociedade civil, até a prática cotidiana da
administração pública", comentou.
Sócio do
Machado, Meyer, Sendacz e Opice Advogados, Leonardo Machado
acredita que a eficácia do pacote dependerá do debate legislativo. "Sem dúvida,
é um primeiro passo, mas quem vai definir se vai virar algo efetivo não é o
Planalto ou o Executivo, mas o Congresso. Diferentemente, a Lei nº 12.846 tem
impactos imediatos, pois tem o poder de trazer mais materialidade e
objetividade do que seriam esses mecanismos de prevenção aos atos lesivos
caracterizados na lei", analisa.
O QUE
PREVÊ O PACOTETipificação
do crime de caixa 2: torna crime o ato de fraudar a fiscalização eleitoral,
pela inserção de elementos falsos ou omissão de informações, com o fim de
ocultar a origem, o destino, ou a aplicação de bens, valores ou serviços da
prestação de contas de partido político ou de campanha eleitoral. Pena: 3 a 6
anos. Extensão da punição aos doadores, com multa de cinco a dez vezes sobre o valor
doado e não declarado. Ação
de Extinção de Domínio ou perda de propriedade ou posse de bens: apresentação
de Proposta de Emenda Constitucional que viabiliza o confisco dos bens que
sejam fruto ou proveito de atividade criminosa, improbidade e enriquecimento
ilícito; apresentação de Projeto de Lei que permita Ação Civil Pública de
Extinção de Domínio.Ficha
Limpa para Servidores (Projeto de Lei): para todos os servidores dos poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário.- Brasil Econômico - p. 5